O suplente de senador e empresário Ney Suassuna, que esteve nos últimos dias na Paraíba para disputar uma vaga na Academia Paraibana de Letras (obteve apenas dois votos), passou recibo, em entrevistas, do incômodo que lhe causa o estigma de trem-pagador de campanhas eleitorais que lhe é atribuído desde 1982, quando disputou o Senado pela primeira vez, em sublegenda, pelo PMDB, a convite de Antônio Mariz, que era candidato ao governo. Na época, Ney, que entrou como azarão, começou a crescer nas pesquisas, ameaçando suplantar o ex-governador cassado Pedro Gondim, que era o candidato preferido da cúpula para a vaga principal. Pedro acabou tendo mais votos, contudo, o dono da vaga foi Marcondes Gadelha, que deixara o PMDB, filiando-se ao PFL, e foi beneficiário do voto vinculado e do rolo compressor da máquina que elegeu Wilson Braga ao governo por 151 mil votos.
Pela primeira vez, nesta última vinda à Paraíba, Ney confirmou o que se sabia nos bastidores e que chegou a ser veiculado por alguns jornalistas: na campanha de 1982, ele foi proibido de avançar como candidato ao Senado, pela cúpula do PMDB, presidida pelo senador Humberto Lucena. Ney perseverou na política, tendo assumido, como suplente, a titularidade no Senado, pela primeira vez, com a renúncia de Antônio Mariz para ocupar o governo, ao qual fora eleito em 1994. Em 98, com apenas uma vaga em jogo, Ney Suassuna fez dobradinha com José Maranhão, o vice de Mariz, que encarou a disputa ao governo, tendo como adversário o ex-deputado estadual Gilvan Freire. A vitória de Maranhão foi acachapante e incidiu sobre o grupo Cunha Lima, que contestava sua liderança no PMDB e acabou migrando para o PSDB. Proporcionalmente, José Maranhão foi o candidato a governador mais votado no país naquelas eleições.
Ney Suassuna ganhou passaporte para atuar com desenvoltura na política-partidária e na atividade parlamentar. A fama de trem-pagador foi substituída pela de trator, numa alusão à mobilidade que o professor Suassuna demonstrou e à habilidade para conseguir recursos para obras e projetos de desenvolvimento na Paraíba. As credenciais que foi alcançando na política projetaram Ney no cenário local, mas o estigma do trem-pagador era recorrente e sempre voltava à tona quando ele anunciava uma candidatura a senador. No governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ney chegou a ser ministro da Integração Nacional. Uma queixa constante que se fazia contra o parlamentar envolvia sua demora em vir à Paraíba, conjugada com o empenho que tinha por causas de interesse do Rio de Janeiro, onde dispõe de endereço privilegiado, na Barra da Tijuca, quase vizinho de condestáveis como o atual presidente Jair Bolsonaro. Os adversários de Ney, na Paraíba, eram impiedosos e tentaram colar nele o apelido de senador da Barra.
Numa entrevista que concedeu, agora, ao Sistema Arapuan de Comunicação, Ney Suassuna confessou que, apesar dos dissabores, não consegue desgarrar-se da política. Ele é, atualmente, suplente de senador de Veneziano Vital do Rêgo (PSB) e, pressionado por jornalistas, admitiu ter colaborado financeiramente para a campanha do titular em 2018, dentro do limite estabelecido pela legislação eleitoral. O ex-senador, que chegou a se desentender publicamente no Recife com José Maranhão, por causa de divergências sobre aporte financeiro em campanhas, foi enfático ao dizer na Arapuan que deverá assumir a titularidade do mandato de Veneziano sem especificar por qual período. Chegou a admitir que Veneziano deverá ser candidato a prefeito de Campina Grande no próximo ano, embora na Paraíba as apostas sejam em torno do nome de Ana Cláudia, mulher do senador, para concorrer à sucessão de Romero Rodrigues, do PSD. Ney, como sempre, consegue a façanha de manter-se em evidência no noticiário e nas articulações políticas. Levou na bagagem para o Rio, certamente, mais uma frustração: o fato de ter tido apenas dois votos na Academia Paraibana de Letras. Mas ele próprio disse, na entrevista, que a Paraíba é ingrata com alguns de seus benfeitores, tendo citado como exemplo o ex-governador Tarcísio Burity, que, coincidentemente, foi derrotado por Ney numa campanha ao Senado.
Nonato Guedes