Governadores de Estados, de uma forma ou de outra, acabam acumulando informalmente o cargo que exercem com os de prefeitos das Capitais. Não é só uma questão vinculada à importância da Capital como maior cidade das unidades da Federação, mas, em muitos casos, uma atração pelas metrópoles e a vontade de fazê-las crescer mais e melhor. Aqui, na Paraíba, tivemos exemplos emblemáticos. Wilson Braga foi, primeiro, governador (em 82) para, depois, ser prefeito (em 88). E como governador foi uma espécie de prefeito, investindo em obras e melhorias dentro da órbita de competência para ações do Estado, quer isoladamente, quer por meio de parcerias com a prefeitura. Já como prefeito, Braga durou pouco no mandato logo se afastou para tentar voltar ao governo da Paraíba, feito que não logrou, em 1990.
A análise vem a propósito da trajetória de João Doria, atual governador de São Paulo pelo PSDB, que interrompeu o mandato de prefeito da Capital justamente para ascender ao Palácio Bandeirantes, estando na agulha para candidatar-se à presidência da República (o que é outro departamento). Entrevistado pela revista Veja perguntaram-lhe o que é mais difícil: ser prefeito ou governador? Respondeu, de bate-pronto: Prefeito. E explicou, didaticamente: A demanda que recai sobre o prefeito é enorme e cotidiana. O prefeito, por causa dessa demanda, tem dificuldade de planejar e trabalhar de médio a longo prazo, como faz o governador. Por isso, tenho um enorme respeito pelos prefeitos. Sou um governador municipalista por convicção.
Tarcísio Burity, na Paraíba, foi, cumulativamente, prefeito de João Pessoa, sem ter sido candidato a esse cargo (sua biografia consistiu em ser duas vezes governador e uma vez deputado federal). No segundo mandato, na década de 80, Burity promoveu uma espécie de intervenção branca nos domínios da Capital paraibana, criando uma empresa estatal de transportes coletivos a pretexto de solucionar impasse derivado de divergência sobre o valor da tarifa entre o prefeito Carneiro Arnaud e empresários de ônibus. Burity entendeu que a pressão dos empresários estava evoluindo para uma chantagem contra o prefeito e intuiu que Carneiro não estava tendo força política para fazer face a essa demanda. A população vivia momentos de tensão com a perspectiva de paralisação do transporte coletivo por tempo indeterminado. Burity, que tinha um feeling político extraordinário para o marketing, intuiu que era sua vez de agir. E concebeu, por decreto, a criação do Setusa, assegurando ônibus para todos os pessoenses no Dia D previsto para a greve dos coletivos.
Para além desse gesto, que evidenciou a sua personalidade forte, Burity fez, como governador, intervenções de impacto na geografia urbana de João Pessoa, ora em colaboração com a prefeitura, ora por conta própria. Ele dotou João Pessoa do Espaço Cultural, na época um dos maiores empreendimentos de vulto de que se tinha notícia, rasgou o chão para alargar ruas e avenidas ou asfaltá-las em projetos de amplitude que demandavam recursos federais e até internacionais. Investiu na edificação de um Centro de Artesanato, em outros equipamentos culturais e deu a partida para a discussão de investimentos no Turismo, baseada na proposta de dotar João Pessoa de uma infraestrutura que servisse de suporte para tanto. Fora daí, ampliou os horizontes da Capital para torná-la sede de Região Metropolitana, englobando cidades satélites como Cabedelo, que foi premiada com a concretização de Intermares, hoje uma mini-cidade dentro da cidade portuária.
Ronaldo Cunha Lima e Cássio Cunha Lima também investiram na Capital, mas de forma macro. José Maranhão avançou alguns degraus a mais na escalada expansionista que havia sido deflagrada por Tarcísio Burity. Mas, depois de Burity, indiscutivelmente foi Ricardo Coutinho, que deixou o Palácio da Redenção às vésperas de 2018, quem mais priorizou João Pessoa e suas potencialidades, concluindo por entregar um presente valioso de que todos se orgulham: o teatro A Pedra do Reino, situado no Altiplano Cabo Branco. Ricardo valeu-se de duas vantagens: ser natural de João Pessoa, com intensa atuação e vivência pelos seus corredores, esquinas e avenidas, e ter sido prefeito por duas vezes da Capital paraibana, além de vereador e deputado estadual eleito com maioria expressiva de votos dados por eleitores aqui radicados. Mas Ricardo também interligou a Paraíba de uma ponta a outra, quebrando o isolamento que segregava cidades menores, humildes até no orçamento. Não deverá ser diferente o tratamento para com a Capital por parte do governador João Azevêdo, sucessor de Ricardo. Não só por, também, ser natural de João Pessoa, mas por conhecer profundamente a Capital nos seus aspectos mais estranhados, que dizem respeito ao planejamento urbanístico. É esperar para ver!
Nonato Guedes