Um processo administrativo disciplinar foi instaurado na tarde de ontem pelo corregedor nacional do Ministério Público, Orlando Rochadel, contra DeltanDallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato, de Curitiba e outros procuradores citados na série de reportagens do site The Intercept Brasil, responsável por divulgar mensagens atribuídas ao ex-juiz Sérgio Moro e ao procurador Dallagnol, trocando colaborações quando integravam a força-tarefa da Operação. Nas conversas privadas, membros da força-tarefa fazem referências a casos como o processo que culminou com a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Moro teria sugerido ao MPF trocar a ordem de fases da Lava-Jato, cobrou a realização de novas operações, deu pistas e conselhos e antecipou pelo menos uma decisão judicial.
Em sua decisão, Rochadel determinou que Deltan e os colegas da Lava-Jato prestem informações ao Conselho Nacional do Ministério Público no prazo de dez dias. Sem adiantar qualquer juízo de mérito, observa-se que o contexto indicado assevera eventual desvio na conduta de membros do Ministério Público Federal, o que, em tese, pode caracterizar falta funcional, escreveu o corregedor. Em Brasília o Palácio do Planalto informou que o presidente Jair Bolsonaro não comentaria o suposto vazamento de conversas entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e procuradores da Lava-Jato. Só a partir da conversa que deverá ter com Moro hoje é que o presidente deverá definir o que fazer em relação ao caso, para que o episódio não atrapalhe os planos do governo para retomar a economia do país.
Falando em Manaus, o ministro Sérgio Moro negou ter orientado procuradores da força-tarefa da Lava-Jato sobre como deveriam agir para obterem a condenação de pessoas acusadas de participar do suposto esquema de corrupção que resultou na condenação de políticos, empresários e executivos de empresas estatais como a Petrobras. Não vi nada de mais nas mensagens. O que há ali é uma invasão criminosa de celulares de procuradores, o que, para mim, é um fato bastante grave, declarou Moro. Já o procurador DeltanDallagnol divulgou um vídeo em que defende o trabalho da força-tarefa da Operação Lava-Jato, afirmando ser teoria conspiratória a ideia de que a investigação foi direcionada com o intuito de prejudicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
– Tentar imaginar que a Lava-Jato é uma operação partidária é uma teoria da conspiração que não tem basee nenhuma. Vejam que 15 procuradores atuam na Lava-Jato só em primeira instância em Curitiba (…) Grande parte dessa equipe foi formada antes de aparecer o primeiro político, quando não se tinha ideia de onde a Lava-Jato iria chegar expressou Dallagnol. Para o Procurador, a Lava-Jato sofreu um ataque gravíssimo com a invasão de celulares de agentes envolvidos na operação. O nosso receio é o de que a atividade criminosa avance agora para falsear e deturpar fatos nesse imenso ataque contra a Lava-Jato, alertou. E foi enfático ao afirmar que não reconhece a fidedignidade das mensagens divulgadas. Essas acusações feitas não procedem e a origem delas está ligada ao ataque criminoso realizado. Mesmo não reconhecendo a fidedignidade das mensagens que foram espalhadas, nós reconhecemos que elas podem gerar um desconforto em alguém, e isto é profundamente lamentável, finalizou.
Da Redação, com Folhapress