O ministro da Justiça, Sérgio Fernando Moro, que se notabilizou pela atuação como juiz titular da força-tarefa da Operação Lava-Jato, afirmou, nas últimas horas, que não teme ser exonerado do cargo pelo presidente Jair Bolsonaro em consequência do vazamento de conversas telefônicas suas com o Procurador Deltan Dallagnol, atual executor da Lava-Jato, sobre os rumos da operação. As conversas têm sido reveladas pelo site The Intercept Brasil em sucessivas reportagens, mas mesmo suspeitando de edição e manipulação, Sérgio Moro antecipou-se em opinar que não vê nada comprometedor nas mensagens trocadas com Dallagnol. O ministro foi levado pelo presidente Bolsonaro para assistir a um jogo do Flamengo em Brasília e tem recebido manifestações de apreço por parte do mandatário. Mas quer comparecer à Câmara e ao Senado para prestar esclarecimentos a respeito do assunto.
Nascido em primeiro de agosto de 1972 em Ponta Grossa, e criado na cidade de Maringá, no Paraná, Sérgio Moro é oriundo de família tradicional e sempre cultivou valores e princípios religiosos que moldaram a sua personalidade íntegra, no dizer da jornalista e atual deputada federal por São Paulo Joice Hasselmann, do PSL, autora do livro Sérgio Moro A história do homem por trás da operação que mudou o Brasil. O prefácio é assinado pelo jornalista paraibano José Nêumanne Pinto, que há bastante tempo atua em São Paulo, sendo atualmente editorialista de O Estado de S. Paulo. Joice diz que Moro sempre se regeu pelo senso de hierarquia e que sua família sempre apostou na educação como o melhor caminho para sua formação. Moro formou-se em Direito na turma de 1995 da Universidade Estadual de Maringá, onde seu pai lecionara. Era um estudante de ensino superior aplicado e buscou rapidamente se estabelecer como juiz federal.
Antes de tentar o concurso, ele trabalhou em um escritório com o advogado Irivaldo Joaquim de Souza, seu único patrão. Logo depois veio a carreira na magistratura. Tornou-se, então, juiz federal em 1996 com apenas 24 anos. Em toda a sua carreira, atuou em pelo menos 1 200 processos em apenas vinte anos de atuação profissional um fenômeno único, segundo Joice Hasselmann. No começo da trajetória, teve rápida passagem por Curitiba e foi trabalhar em Cascavel, no Paraná, e Joinville, Santa Catarina. Era conhecido como o juiz dos velhinhos, ao ajudá-los na vara previdenciária em causas contra o INSS. Deu, inclusive, pensão aos netos que perderam seus entes queridos e não tinham mais os pais, além de proteger a terceira idade que não recebia benefícios nos programas de distribuição de renda do governo. Moro foi também um juiz equilibrado diante de empresas. No caso de sonegações de impostos que decorriam de dificuldades financeiras, aplicava penas mais brandas. Do contrário, adotava punições rigorosas. Seu pai, Dalton, chegou a ter ligações com o PSDB, o que valeu a Moro insinuações de ser simpatizante dos tucanos. Mas como juiz ele assinou sentenças que desagradaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, já que atuou como um crítico da política econômica de FHC.
Moro esteve no exterior para realizar o programa de instrução de advogados da Escola de Direito da Universidade Harvard, em 1998. Nos EUA, participou de programas de estudos sobre lavagem de dinheiro por meio do International Visitors program, todos promovidos pelo Departamento de Estado Americano. Moro trabalhou no caso que desmantelou a quadrilha de Fernandinho Beira-Mar no ramo do tráfico de drogas. Mas seu grande caso envolveu o Banestado, Banco do Estado do Paraná, privatizado e vendido ao Itaú em outubro de 2000 por R 1,6 bilhão. Para consolidar a Operação Lava-Jato, Sérgio Moro inspirou-se na operação italiana Mãos Limpas, um caso famoso que ainda hoje é mencionado como exemplar na mídia internacional. Num artigo que escreveu a respeito, afirmou que o Brasil precisava de uma investigação similar para chegar aos corruptos da política tupiniquim.
Em 2012, Sérgio Moro atuou como auxiliar da ministra do STF, Rosa Weber, no julgamento dos crimes de José Dirceu, José Genoíno e outras grandes figuras do PT. O caso que mais lhe rendeu repercussão, entretanto, foi a decretação da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reagiu à ordem, acampando no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, mas finalmente entregando-se às autoridades e sendo recolhido à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde permanece até hoje. Moro tem a promessa do presidente Jair Bolsonaro de vir a ser indicado para uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal. Há quem acredite que essa indicação está prejudicada em virtude das denúncias que ora envolvem o ministro da Justiça. Independente de estar de pé ou não a nomeação, Moro luta para provar sua inocência no imbróglio que ora se desenrola e para levar a termo o pacote anticrime, que pretende enviar ao Congresso e com o qual deseja coroar sua passagem pelo ministério da Justiça no governo Bolsonaro.
Nonato Guedes