Em sua matéria de capa da última edição, a revista Tribuna, que se define como a revista dos municípios e que completou 20 anos de circulação, propõe uma reflexão sobre a crise porque passam algumas das principais festas de São João este ano. O diretor-presidente e editor da revista, Procurador e jornalista Manoel Raposo, faz um apelo no sentido de que as comunidades e lideranças não deixem a tradição junina morrer, citando que os organizadores de alguns dos principais eventos juninos têm reclamado da queda de arrecadação e do aumento das despesas para a realização de festas. Na cidade de Patos, a prefeitura não teve como manter a programação de grandes shows no Terreiro porque não podia arcar com os custos. A estimativa inicial era de um custo de R$ 3,5 milhões na cidade Rainha das Espinharas. Após algumas adequações, o valor caiu para R$ 2.9 milhões.
No entanto, com as quedas consecutivas de arrecadação de repasse de recursos do Fundo de Participação dos Municípios, a prefeitura ficou impossibilitada de bancar o evento, optando por cancelar o São João de Patos. Perdemos patrocínios e aqueles com que ainda poderíamos contar reduziram em quase 90% o valor em relação ao investimento no evento do ano passado, declarou o prefeito interino de Patos, Sales Júnior. Um exemplo que ele citou foi o de um patrocinador, que investiu R$ 500 mil no Terreiro no ano passado e este ano decidiu aportar apenas o valor de R$ 50 mil. Pelos cálculos, a prefeitura teria que desembolsar cerca de R$ 1 milhão, mas preferiu não correr riscos nem ser irresponsável, diante das dificuldades, conforme o gestor.
Patos manterá uma programação mínima, sem grande badalação, que não estará concentrada no Terreiro do Forró, como vinha sendo tradicional. A prefeitura informou ter auscultado segmentos da população a respeito, havendo o consenso de que a cidade carece com urgência de investimentos em ações e obras de infraestrutura para beneficiar a população e favorecer o desenvolvimento econômico e social. Em paralelo, Patos atravessa uma séria crise administrativa, que já levou ao afastamento de prefeitos acusados de irregularidades. Com a falta de atrações maiores em Patos, o município de Santa Luzia espera capitalizar boa parte do segmento de turistas que se deslocavam às Espinharas no São João. Cidades como Monteiro, Solânea, Bananeiras e Cajazeiras continuarão promovendo eventos com participação de bandas e artistas da região.
Em Campina Grande, que criou a fama de realizar o maior São João do Mundo, de acordo com o marketing da prefeitura municipal, tem havido uma reformulação nos últimos anos na programação, para que fosse adequada aos custos da conjuntura. A festa junina em Campina está na sua trigésima sexta edição, acontecendo de sete de junho a sete de julho. Na véspera do dia de São João haverá show da cantora Elba Ramalho, e o encerramento da festa será comandado por Marília Mendonça. Houve uma frustração com a não participação de Ivete Sangalo na abertura do São João de Campina. A artista alegou razões particulares e pediu desculpas à população campinense. Foi substituída por artistas da Paraíba e do Nordeste, que atraíram grande público ao Parque do Povo. Além de turistas, o São João de Campina tem atraído a presença de políticos, como o senador Davi Alcolumbre, presidente do Senado Federal, e a deputada Joice Hasselmann, líder do governo Bolsonaro no Congresso, que veio no fim de semana. A vinda do presidente Jair Bolsonaro ainda é cogitada em alguns círculos, mas o prefeito Romero Rodrigues não sinalizou confirmação.
Recentemente a Federação das Associações de Municípios da Paraíba (Famup) fez um alerta aos prefeitos sobre as despesas na organização dos eventos juninos, devido ao momento de instabilidade e à queda de repasses de recursos do Fundo de Participação dos Municípios. As festas de São João mais animadas e tradicionais acontecem nas cidades do interior nordestino. Na Paraíba, para driblar a crise, formou-se um Circuito Junino do Brejo, reunindo de prefeituras de seis cidades para a manutenção da tradição.
Nonato Guedes