Nas eleições de 2018, 77 mulheres foram eleitas para a Câmara dos Deputados, representando um incremento de 51% em relação ao último pleito mas que corresponde a apenas 15% do total de parlamentares. No Senado, elas continuaram a ser 13% do total de eleitos, ou seja, 7 senadoras (entre as quais a paraibana Daniella Ribeiro, do PP, a primeira eleita na história do nosso Estado). No entanto, um levantamento feito pela revista Época mostra que grande parte da bancada feminista é desunida e que uma parcela tem até mesmo posições conservadoras em relação a certos temas polêmicos.
Uma reportagem assinada por Natália Portinari e Daniel Gullino e publicada na revista Época aponta que metade das deputadas acha que o presidente Jair Bolsonaro não é machista e a maioria não se assume como feminista oito delas disseram que ser feminista é algo ruim. Muitas acreditam que é preciso ensinar educação sexual na escola, a maioria é favorável à criminalização da homofobia e 60% acham que a lei do aborto deve ser mantida como está, com permissão em casos de estupro, risco para a mãe e anencefalia do feto. O único tema realmente consensual é a desigualdade salarial elas concordam que a disparidade entre os gêneros é gritante.
Líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (SP) que esteve em João Pessoa e Campina Grande no último fim de semana, é a mulher com mais votos da história da Câmara dos Deputados: 1.078.659. Eu sou a prova viva de que não precisa de cotas para mulheres na política, afirmou, no início de janeiro, em entrevista à Època. Tive mais votos que a macharada toda. Só teve um com mais votos que eu, que foi o filho do Bolsonaro (Eduardo, do PSL)). Mas quero fazer um trabalho estimulando as mulheres do Brasil inteiro que queiram entrar na política. Não porque são filhinhas de político ou mulheres de político, mas porque querem, enfatizou Joice Hasselmann, emendando: Lamentavelmente, isso não é a exceção. Existe a ideia de fazer uma dinastia. Das 77 deputadas, ao menos 21 são parentes de políticos, entre mulheres, ex-mulheres, filhas e outros graus de parentesco. É o caso, por exemplo, de Clarissa Garotinho, filha dos ex-governadores do Rio, Anthony e Rosinha Garotinho, ou de Marília Arraes, neta, sobrinha e prima de outros políticos de Pernambuco. Na bancada de deputados federais da Paraíba, nesta legislatura, há apenas uma mulher, Edna Wanderley, do PSDB, casada com Dinaldo Wanderley, deputado e ex-prefeito de Patos. Daniela é filha de ex-prefeitos e irmã do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, um dos líderes do Centrão na Câmara dos Deputados.
O caso envolvendo o jogador Neymar, acusado de estupro, por exemplo, é pouco comentado pelas senadoras e deputadas. Soraya Thronicke, do PSL-MS, afirmou: Não podemos partir do pressuposto de que, porque é mulher, ela tem razão (referindo-se à modelo Nájila, que acusou o atleta. Tem de apurar, não existe uma presunção de culpa em cima do Neymar. Somos seres humanos, se ele errou tem de apurar, se ela errou tem de apurar. Não quero fazer diferença pelo sexo feminino ou masculino, esquivou-se Soraya. A senadora Selma Arruda (PSL-MT), que foi cassada pelo Tribunal Regional Eleitoral mas recorreu da decisão, afirmou que as cotas estimulam o uso de laranjas, justamente a acusação que pende sobre seu partido. Apelidada de Moro de saias (é também juíza), Soraya nega de forma veemente que seja feminista. O movimento feminista nasceu por uma causa muito justa, mas hoje virou negócio de deixar cabelo debaixo do braço, alega. Segundo a senadora, a mulher é avessa à política por natureza, por ser um ambiente masculino e poluído, em que os participantes são tachados de corruptos.
De acordo com a revista Época, apesar da melhora recente, o Brasil ainda tem uma das piores representações femininas no Congresso. Figurando na centésima décima terceira posição, ao lado do Bahrein e do Paraguai, em uma lista de 193 países. O ranking foi elaborado pela Organização Internacional União Interparlamentar e leva em conta a percentagem de assentos ocupados por mulheres em Câmaras baixas ou parlamentos unicamerais (no caso do Brasil, a Câmara dos Deputados). Esse índice é de 15% no Brasil contra 61,3% em Ruanda, que está no topo da lista, seguida de Cuba e Bolívia. No capítulo dos temas em discussão, a reforma no sistema de aposentadoria está entre os temas mais frequentes nos discursos parlamentares.
Nonato Guedes, com Época