O presidente Jair Bolsonaro (PSL) ganhou novo ânimo com o depoimento de quase dez horas do ministro da Justiça, Sérgio Moro, perante a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, e sinalizou hoje, durante visita à cidade de Eldorado, São Paulo, onde foi expressivamente votado, que poderá disputar a reeleição ao Palácio do Planalto. Até então, em meio a crises no governo e a sinais de insatisfação popular que provocaram manifestações de rua contra a reforma da Previdência e os cortes nas universidades federais, o presidente Bolsonaro parecia estar desmotivado e chegou mesmo a descartar a possibilidade de reeleição.
Ao comentar a sabatina a que foi submetido Sérgio Moro sobre as denúncias do site The Intercept Brasil de suposto conluio entre o ex-juiz e procuradores como DeltanDallagnol para dirigir os rumos da Operação Lava-Jato no sentido de prejudicar figuras como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado à prisão por Moro, o presidente Jair Bolsonaro foi enfático ao dizer que ele se comportou 100% dentro do que esperava. Por isso, reiterou a confiança no trabalho do ministro da Justiça, ressaltando que ele demonstrou, na sabatina, não ter cometido grave ilegalidade, tal como insinuado pelo site The Intercept, bem como por opositores do governo de Bolsonaro. Sérgio Moro é tido, desde o início do governo, como um dos pilares da gestão de Bolsonaro, pela credibilidade conquistada com sua atuação à frente da Operação Lava-Jato. Ele formaria, junto com o ministro Paulo Guedes, da Economia, o núcleo acreditado do atual governo.
Fontes políticas de Brasília, confrontadas com as declarações de Bolsonaro nas últimas horas, avaliaram que a possibilidade de uma renúncia ou exoneração do ministro da Justiça está descartada. Sérgio Moro teria ganho a confiança definitiva do presidente da República pela postura combativa que adotou quando foi vítima do que está sendo chamado de moedor de carne, com críticas veementes de parlamentares petistas e de outros partidos, como o senador Renan Calheiros. O que se diz nos corredores palacianos é que Sérgio Moro valeu-se da sua habilidade e experiência como juiz, que conduziu inúmeros interrogatórios, entre os quais o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para contornar o bombardeio dos integrantes da Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Há uma expectativa muito grande, em Brasília e em todo o país, sobre qual a decisão que ministros do Supremo Tribunal Federal vão tomar quando do exame dos recursos do ex-presidente Lula, através de sua defesa, pleiteando soltura e, agora, anulação de supostas provas que teriam instruído processos contra ele e motivado a condenação em sucessivas instâncias. Os lulopetistas reforçaram a convicção de que o julgamento do ex-presidente foi motivado por interesses de perseguição política e de tentativa de destruição da reputação do ex-metalúrgico. Daí a movimentação, pós-depoimento de Sérgio Moro, para questionar a legitimidade da atuação que o ministro teve, como juiz, ao examinar os casos envolvendo o ex-presidente da República. Mas, em círculos autorizados em Brasília, cogita-se que há uma incógnita diante dessa perspectiva de anulação das provas contra Lula.
Nonato Guedes, com agências