Num fato praticamente inédito na crônica política brasileira, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), que está completando apenas seis meses de governo e que enfrenta um desemprego em alta e uma economia patinando, deu a largada para a própria sucessão, admitindo que pretende ser candidato à reeleição em 2022. Para analistas políticos, tratou-se de um gesto prematuro demais e igualmente temerário, sem falar que com o anúncio Bolsonaro descumpriu uma promessa de campanha, naquilo que em outros tempos e outros governos seria considerado estelionato eleitoral. O cientista político Sérgio Abranches falou em recorde de precocidade por parte de Bolsonaro, alegando que não é usual esse grau de antecipação.
Na esteira do auto-lançamento de Bolsonaro para a reeleição, proliferam outros nomes de presumíveis postulantes ao Palácio do Planalto. Pelo menos oito personagens foram listados pela revista Veja como candidatos a candidato a mais de três anos do pleito, quando qualquer prognóstico sobre candidaturas é tido como mero exercício de especulação. Os prováveis postulantes são estes: Jair Bolsonaro, do PSL; Ciro Gomes, do PDT, Sérgio Moro (sem partido), Fernando Haddad, do PT, Rodrigo Maia, do Democratas, Wilson Witzel, do PSC, João Doria, do PSDB, Luciano Huck, sem partido. Sérgio Moro é tido como o ministro mais popular do governo. Nos meios políticos, sai posse no ministério da Justiça foi encarada em Brasília como um rito de passagem para a nomeação ao Supremo Tribunal Federal ou a candidatura a presidente em 2022. Desde as revelações das conversas que manteve com procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, a atuação de Moro como juiz está em xeque. Já seu prestígio como político segue em alta.
O ex-ministro Fernando Haddad, que foi derrotado no segundo turno da eleição passada, quando recebeu 47 milhões de votos, é candidato natural do Partido dos Trabalhadores. Um de seus desafios é vencer a resistência da cúpula do partido, que tem cobrado dele, desde a campanha de 2018, um discurso mais radical do que ele gostaria. Na comparação com certos correligionários, Haddad é um moderado. Tão moderado que ganhou de Lula o apelido de petista com cara de tucano. Ciro Gomes, do PDT, acumula pelo menos três derrotas em eleições presidenciais no currículo. A intenção do ex-ministro e ex-governador do Ceará é a de se consolidar como a maior força do campo da esquerda, suplantando o PT. Para tanto, tem criticado as gestões petistas e feito o mea-culpa que Lula e Dilma Rousseff, dos quais foi aliado, se recusam a fazer. Define Veja: De temperamento mercurial, Ciro cultiva boas relações com setores do empresariado e se vende como alguém capaz de tirar o Brasil do atoleiro.
Em relação ao deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara Federal, ele cogitou disputar a eleição presidencial em 2018 mas foi obrigado a desistir porque não deslanchou nas pesquisas. Não atingiu nem mesmo o piso que considerava pré-requisito para entrar no páreo: 5% da preferência do eleitorado. Maia aposta numa agenda que tocará como presidente da Câmara, capaz de reaquecer a economia. Se seu plano der certo, acha que poderá ser o escolhido pelos donos do dinheiro. Já o governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, venceu a disputa interna com tucanos veteranos e assumiu o controle do partido, movendo-o para o campo da centro-direita. Doria aposta que o desempenho econômico de São Paulo sob sua gestão será superior ao do país. Ao contrário do presidente Bolsonaro, tem mantido pontes com presidentes de partidos, inclusive do notório Centrão, e com caciques do Congresso. Também faz do antipetismo uma bandeira de campanha.
Wilson Witzel, do PSC, depois de surpreender na disputa pelo governo do Rio, acha que consegue replicar o papel de azarão e vencer a sucessão presidencial. Sua atuação até agora emula a de Jair Bolsonaro, com direito a flexões, discurso radical contra a bandidagem e apologia do uso de armas de fogo, segundo Veja. Filiado a um partido nanico, é um completo desconhecido fora do Rio, mas acredita que pode repetir em 2022 o fenômeno Bolsonaro. Enfim, o apresentador da TV Globo Luciano Huck pensou em concorrer em 2018, estimulado por correntes que queriam quebrar a polarização entre Bolsonaro e o PT. Sem estar filiado a qualquer partido, tem a seu favor, entre outros, o fato de manter laços com movimentos de renovação política e ser extremamente popular. Como apresentador de televisão, cultivou a imagem de pessoa preocupada com as mazelas do país. Transita com desenvoltura entre endinheirados. Veja lembra que três anos da eleição presidencial, Fernando Collor (1990-1992), Fernando Henrique (1995-2002), Dilma Rousseff (2011 a 2016) e Bolsonaro nem sequer apareciam no cenário de prováveis candidatos a presidente. Collor ganhou notoriedade como caçador de marajás, Fernando Henrique capitalizou os resultados fantásticos do Plano Real, Dilma foi catapultada pela popularidade de Lula e Bolsonaro incorporou o político antissistema.
Nonato Guedes, com informações de Veja