Escolhida em dez anos consecutivos, por jornalistas setorizados, como vereadora atuante na Câmara Municipal de João Pessoa, Raíssa Lacerda (PSD) parece próxima de despontar efetivamente na cena política local e estadual como liderança de status, alçando voos maiores, como o de disputar a prefeitura da Capital, figurar como nome para vice numa chapa prestigiosa ou resguardar-se para, finalmente, concorrer à Assembleia Legislativa, concretizando projeto antigo que acalenta: o de suceder ao pai, José Lacerda Neto, com raízes políticas em São José de Piranhas, que bateu recorde de mandatos como deputado estadual a ponto de ser citado no Guiness Book. Lacerda foi, também, vice-governador, na segunda gestão de Cássio Cunha Lima, e secretário de Estado. Raíssa, que não esconde a devoção ao pai e admiração à sua trajetória, confessou-me que avalia seriamente a hipótese de voar mais alto.
Ela se credenciou por méritos próprios no desempenho do mandato legislativo em João Pessoa, onde nasceu. Preside e integrou Frentes Parlamentares focadas em questões de interesse público, é autora de um sem número de projetos que viraram leis e que viabilizaram mudanças na paisagem urbana da Capital, além de beneficiar, pontualmente, segmentos carentes nem sempre prioritários em políticas públicas da prefeitura ou do governo do Estado. Raíssa tem um temperamento forte, combativo, que já lhe rendeu polêmicas e atitudes ousadas. Já foi aliada, rompeu e reatou laços políticos com esquemas distintos como o do ex-governador Ricardo Coutinho e do prefeito Luciano Cartaxo, que são adversários na conjuntura paraibana. Surpreendeu na campanha de 2018, quando declarou apoio à candidatura do senador José Maranhão (MDB) ao governo do Estado, contornando alternativas supostamente mais fáceis ou vantajosas que gravitavam em torno dos nomes de Lucélio Cartaxo (PV) e João Azevêdo, este, ungido em primeiro turno numa batalha memorável.
Raíssa não esconde que se deixa guiar, na maioria das suas iniciativas, pelos ensinamentos do pai, respeitando a vasta experiência acumulada por José Lacerda na relação com diferentes governos na Paraíba, de Wilson Braga a José Maranhão e Cássio Cunha Lima, passando por convivência com líderes como o ex-senador Efraim Morais, nos tempos do PFL. Lacerda baseou sua atividade política-parlamentar na assistência social aos eleitores carentes, em épocas nas quais o poder público era omisso e não supria a contento essas demandas. Fiel às origens interioranas e sertanejas, Lacerda costumava transformar sua casa em João Pessoa, junto com a mulher, numa espécie de ambiente para acolher famílias necessitadas e desprovidas de recursos que vinham em ambulâncias em busca de luzes para problemas de saúde. Os gestos de solidariedade e de largueza de espírito público de José Lacerda sempre foram reconhecidos como exemplares – até que os poderes públicos reformularam métodos e prioridades nas políticas de atendimento à coletividade, assumindo responsabilidades das quais fugiam.
É uma mulher antenada, consciente e independente, que não receia divergir de orientações de cúpulas quando considera que precisa colocar o interesse público acima de tudo. Também é incansável na peregrinação por bairros, favelas e demais pontos periféricos de João Pessoa, intercedendo para equacionamento de situações de calamidade e agindo como consciência crítica dos deveres da própria Câmara Municipal na sintonia fina com a coletividade. Raíssa se projeta, além do carisma inato, pelo caráter espacial de propostas e bandeiras que empalma, não se atendo a plataformas estritas ou segmentadas, salvo em casos excepcionais. Isto é o que tem feito a diferença na comparação entre o seu perfil e o perfil de outras vereadoras, que operam influenciadas por alegados compromissos ou convicções ideológicas e, embora involuntariamente, acabam priorizando parcelas da população em detrimento de outras.
Raíssa Lacerda é regida pelo senso de justiça e pela noção do interesse público, reflexo, talvez, da experiência que aprofundou acompanhando o convívio do pai José Lacerda no atendimento a quem mais precisa. O pai nunca se envergonhou do papel assistencialista que desenvolveu o quanto pôde no exercício de cargos na vida pública. Esse múnus a que se apegou fazia parte da regra vigente no período em que atuou de forma incansável. De resto, não havia razão senão para se orgulhar pela nobreza dos gestos e das ações. Preparou Raíssa para ir longe. Dona do seu próprio timing, ela está adentrando aos poucos essa rota de chegada. A conferir!!!
Nonato Guedes