Perderá tempo, aparentemente, quem se aventurar em pressões junto ao prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), para fazê-lo declinar nome ou nomes de prováveis opções em exame para disputar a sua sucessão pelo agrupamento que dirige. Ele voltou a repetir a toada de minha prioridade é governar, proferida à exaustão na campanha eleitoral que desaguou no pleito a governador no ano passado, quando seu nome circulou com bastante antecedência como o preferido, inclusive, para unir as oposições. O desfecho, nesse episódio, foi a permanência de Luciano no cargo e a indicação do seu irmão gêmeo Lucélio como o candidato de um segmento de oposição, tendo como vice a doutora Micheline Rodrigues, mulher do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD). Lucélio ficou em segundo lugar, mas a uma distância expressiva de João Azevêdo, do PSB, que liquidou a fatura em primeiro turno.
Houve quem culpasse a demora de Luciano em assumir uma candidatura ao governo pela derrota da oposição (além de Lucélio, foi derrotado José Maranhão, do MDB) e o triunfo do esquema governista, capitaneado pelo então governador Ricardo Coutinho, que decidiu permanecer até o último dia no cargo, sem concorrer ao Senado, como era esperado, obstinando-se em duas metas que foram alcançadas: eleger Azevêdo e assistir à derrota de Cássio Cunha Lima (PSDB) na tentativa de se reeleger ao Senado. É possível que a relutância por parte do prefeito da Capital dificultou, pelo menos, a costura da unidade ampla das oposições. Uma articulação diferente poderia ter evitado a candidatura de Maranhão, não obstante o chamariz dos recursos do Fundo Partidário e, na sequência, facilitado o fortalecimento de Cartaxo fosse Luciano, que teria mais chances, teoricamente, fosse Lucélio, com menos chances. Afinal, Azevêdo despontava no páreo como neófito por não ter, até o dia em que foi ungido candidato, disputado qualquer cargo eletivo no seu histórico.
A dados de hoje, Luciano conta com pré-candidatos dentro do seu esquema, comoo secretário Diego Tavares e o vereador Fernando Milanez Neto. Mas seu esquema corre o risco de ter que vir a enfrentar nas urnas o ex-governador Ricardo Coutinho, o grande eleitor do agrupamento socialista, que expandiu sua influência pelas franjas do Partido dos Trabalhadores graças a uma aproximação tática e constante que passou a cultivar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda que não fosse Ricardo o candidato e seja obrigado a forjar outro nome, o ex-governador teria na eleição para prefeito de João Pessoa no próximo ano um poder de fogo que não pode ser minimizado, de acordo com avaliações de aliados e adversários. Ricardo tem tempo de sobra para montar articulações e conspirar contra adversários potenciais e, além do mais, tem alicerçado seu prestígio a nível nacional, o que pode colocá-lo em posição estratégica respeitável no próximo ano, ou não.
Adversários de Luciano dizem que a sua alegação de que o momento é de trabalhar e não de tratar de política soa amarela, pois não há incompatibilidade assegurada entre os dois casos. Isto foi demonstrado pelo próprio Ricardo Coutinho quando permaneceu no governo até o último dia de gestão. Em nenhum momento, Ricardo desacelerou a ofensiva administrativa, cujo enredo, aliás, conhecia de cor e salteado, por estar no segundo mandato, tal como se dá, guardadas as proporções, com Luciano Cartaxo, em sua segunda fase à frente da prefeitura pessoense. Mesmo não desacelerando o ritmo administrativo, Ricardo teve disciplina para cuidar da administração e forrou, colateralmente, a candidatura de João Azevêdo com entrega de obras públicas relevantes, em áreas como a infraestrutura. Nesta última, avançou na pavimentação asfáltica pelos rincões do Estado, de tal sorte que retirou, simbolicamente, do isolamento, a última cidade paraibana que ainda não lograra ter livre acesso ao resto do território. Para os ricardistas, tratou-se de um simbolismo fulminante da Era exitosa que Coutinho implementou no Estado e que Azevêdo se prontificou a dar continuidade, com alterações meramente cosméticas, indispensáveis para firmar a imagem do estilo próprio do novo governante.
Aliados mais realistas (ou mais críticos) do prefeito Luciano Cartaxo não escondem seu desconforto com o que consideram teimosia do alcaide quanto a partilhar e até mesmo antecipar estratégias políticas como balões de ensaio que poderiam ser vitais para cimentar desde logo o terreno capaz de tranquilizar o esquema quanto à vitória para a sucessão dele. Em certos corredores já se insinua, em tom de advertência, a cantilena de que Cartaxo acabará incorrendo no mesmo erro de 2018 e deixando para a última hora uma definição sobre como vai administrar a sua sucessão no esquema a que pertence, o que pode ser perigoso porque, a esta altura, o adversário ou adversários já poderão estar comendo pelas beiradas. Esse estado de espírito é que o fator que pode fazer com que as pressões sejam retomadas, goste ou não o atual prefeito de João Pessoa.
Nonato Guedes