Enquanto o ministro da Justiça, Sérgio Moro, vive um inferno astral, com o desdobramento de graves denúncias sobre manobras feitas, quando juiz executor da Operação Lava-Jato, para interferir nos rumos das investigações e supostamente prejudicar figuras mencionadas como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, o presidente Jair Bolsonaro comemora a celeridade no encaminhamento da reforma da Previdência e fortalece a própria convicção de que deve disputar a reeleição em 2022. A revista Veja, em sua versão online, tem veiculado uma série de informações que comprometem Moro a partir, ainda, do vazamento de conversas que originalmente foi revelado pelo site The Intercept Brasil e que já provocou idas do ministro ao Senado e à Câmara para prestar esclarecimentos, inclusive, sendo alvo de provocações em sessões tumultuadas.
Fontes de Brasília acreditam que o presidente Bolsonaro está entregando Sérgio Moro à própria sorte, diante do peso das acusações que estão sendo feitas e da dificuldade do ministro da Justiça e Segurança Pública em desmontar a ofensiva contra ele, que ganha o reforço de partidos políticos e de parlamentares que não toleram Moro por considerá-lo algoz na época em que foi juiz da Lava-Jato. Bolsonaro, por sua vez, que se lançou candidato à reeleição perante três milhões de evangélicos num evento recente, a Marcha para Jesus, já coleciona candidatos a vice na hipótese de disputar a reeleição. Dá-se como certo em círculos influentes que se partir para um novo mandato Bolsonaro não manterá o general Hamilton Mourão na chapa como vice-presidente da República, diante de atritos entre ambos, alimentados por intrigas palacianas. Mourão adquiriu desenvoltura nos primeiros meses da gestão e deu-se ao direito de discordar publicamente de Bolsonaro, em casos envolvendo, por exemplo, o ex-presidente Lula da Silva. A relação entre os dois não é mais de confiança e sabe-se que o presidente omite do vice informações relevantes desde que passaram a divergir.
Pretendentes à vaga de Mourão num virtual segundo mandato de Bolsonaro não faltam. No evento da Marcha para Jesus, o pastor Marcos Feliciano, deputado federal, confessou que deseja o lugar de Mourão em 2022. Justificou que são 22 milhões de evangélicos um contingente que Bolsonaro não pode desprezar, e acrescentou: O presidente precisa de um vice querido por eles. Me coloco ao lado dele para me testar. Vou somar. Há outros pretendentes camuflados em diferentes partidos que compõem a base de sustentação do presidente no Congresso Nacional. A revista Veja, comentando a pretensão de Bolsonaro de tentar a reeleição, informou que desde a aprovação da emenda permitindo recondução a cargos executivos, em junho de 1977 portanto, há 22 anos, foram raros os mandatários que não arriscaram o segundo mandato.
Há peculiaridades em relação a Bolsonaro. A primeira é a quebra de uma promessa de campanha. No calor da disputa em 2018, antes da facada que sofreu, o candidato do PSL insistiu por várias vezes em que não tinha a intenção de permanecer no cargo por mais de um mandato. E lançava mão do argumento como um diferencial em relação aos concorrentes, numa prova de suposta superioridade ética ante os que almejam o poder apenas para ali se perpetuar. Uma outra peculiaridade que chama a atenção é que Bolsonaro se lança com apenas seis meses no cargo um fato inédito na história recente, em que presidentes como Fernando Henrique, Lula, Dilma Rousseff assumiram pretensões de reeleição, mas não com bastante antecedência. Interlocutores políticos têm prevenido o presidente para os riscos da antecipação, frisando que ao partir para uma agenda de campanha agora, ele abandona a figura de líder de todos os brasileiros para representar uma ala deles. Com isso, intensifica a polarização que atualmente domina o debate político no país. Mas Bolsonaro, segundo interlocutores próximos, não cogita recuar na cantilena da reeleição.
Nonato Guedes