A deputada federal Luíza Erundina (PSOL-SP), natural da Paraíba, considerada a mais velha do Parlamento na atual legislatura, com 84 anos de idade, tem chamado a atenção de colegas pela resistência e espírito público, o que tem sido demonstrado ao participar, durante a madrugada de hoje, da discussão e votação de destaques do projeto da reforma da Previdência, cujo relatório acabou sendo aprovado na Comissão Especial da Câmara, com o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) cantando vitória em relação aos pontos principais constantes do documento condensado pelo relator Samuel Moreira, do PSDB-SP. A deputada Sâmia Bonfim empolgou-se com o exemplo de Erundina e fez questão de elogiá-la em postagem no Twitter, anotando o horário em que a paraibana se mantinha de pé, inclusive, questionando aspectos polêmicos da proposta do Planalto.
Pessoalmente, Luíza Erundina desabafou a jornalistas que considera a proposta de reforma inócua e inconsistente, deixando claras as suas divergências profundas com relação ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Salienta a deputada que há distorções visíveis que se não forem corrigidas em plenário por ocasião da votação terminativa acabarão sacrificando os interesses das classes trabalhadoras. Para ela, o governo Bolsonaro conduz a discussão da reforma previdenciária como quem está fazendo um favor à população brasileira, sem, no entanto, alargar o debate com os segmentos representativos que teriam pontos de vista a expor. Não há diálogo verdadeiramente democrático sobre assunto tão complexo e controverso, acentuou Luíza Erundina.
Natural de Uiraúna, no sertão paraibano, Erundina atuou nos estudos e na área de Assistência Social em João Pessoa, tendo sido funcionária do extinto Iapas. Foi em São Paulo, entretanto, que ela desenvolveu militância política-partidária, filiando-se inicialmente ao Partido dos Trabalhadores, pelo qual se elegeu prefeita da capital paulista, sendo a primeira mulher a ascender ao cargo. No exercício da prefeitura, Erundina entrou em rota de colisão com vereadores petistas e líderes nacionais, a exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi patrulhada com virulência por ter aceito convite do presidente Itamar Franco (PMDB), que assumiu com o impeachment de Fernando Collor de Mello, para assumir a secretaria da Administração do governo federal, com status de ministério. Ela resolveu, então, migrar para o Partido Socialista Brasileiro, dentro da filosofia de manter-se na faixa ideológica de esquerda. Também conviveu com discrepâncias no PSB e acabou se filiando aos quadros do PSOL.
Luíza Erundina é respeitada no Congresso e no cenário político nacional pelas posições coerentes que defende, independente de vinculação partidária. Ela foi crítica do governo de Michel Temer (MDB), que sucedeu a Dilma Rousseff (PT) quando do impeachment desta. Mas também não escondeu restrições a posturas dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Na Paraíba, quando estava no PSB, Erundina estreitou ligações com o ex-governador Ricardo Coutinho, que a recebeu em diversas ocasiões em audiência no Palácio da Redenção. Também teve interlocução direta com o falecido arcebispo metropolitano dom José Maria Pires, que esteve à frente da Arquidiocese por cerca de três décadas e que sempre apoiou as causas de interesse social. A respeito do governo Bolsonaro, a deputada avalia que tem imposto retrocessos aos diversos segmentos da sociedade e adotado posturas visivelmente direitistas e até policialescas. Não há muito o que o povo esperar da parte desse governo que está aí, reage a deputada, dando como exemplo frustrante a reforma da Previdência Social.
Nonato Guedes