No final das contas, quem vai tentar posar de vitorioso é o presidente Jair Bolsonaro, e ninguém de sã consciência pode negar o seu empenho para a aprovação da reforma da Previdência, transformada no cavalo de batalha da sua gestão para levar adiante outras mudanças estruturais reclamadas. Mas, como já está sendo dito em Brasília, é inegável o protagonismo que o Legislativo vem tendo na gestação da reforma, por iniciativas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, ambos do DEM. Incumbiram-se os dois de desbastar entraves e resistências, acomodar interesses conflitantes, desarmar focos sectários de oposição e, em paralelo, fazer avançar o processo de discussão que desaguará na votação propriamente dita.
Não se tem qualquer ideia de como virá o esboço da Mãe de todas as reformas do governo do presidente Jair Bolsonaro. Há, inclusive, suspeitas fundadas de que tenhamos pela frente uma reforma Frankenstein, uma espécie de monstro de duas cabeças, pela variedade de emendas, de propostas aditivas, de penduricalhos que estão sendo enxertados por parlamentares, de olho nas eleições do próximo ano e nas eleições seguintes em que eles serão plebiscitados pelas posições tomadas a favor ou contra o povo. Nas últimas horas, o deputado federal paraibano Wellington Roberto queixou-se que o presidente da República fala muito mas esclarece pouco ou nada esclarece a respeito dos contornos da nova Previdência.
Em certa medida, era previsível a barafunda que se manifesta nas instâncias de discussão e deliberação sobre tema tão controverso. A questão da Previdência não começou a ser discutida ontem; pelo contrário, vem se arrastando há diferentes governos, inclusive, os do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que acabou conseguindo apenas mudanças cosméticas, ou, no dizer dos adversários ferrenhos, uma reforma meia-sola que não feriu fundo os graves problemas que teriam que ser encarados na formatação de uma mudança dessa dimensão. Parecia, até, haver má vontade política na concretização da nova Previdência. Mas isso é passado e o que aflora, atualmente, é a velocidade imprimida na elaboração do consenso mínimo para que haja a votação na Câmara dos Deputados e o arremate no Senado.
Já houve desinteligências entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, tendo como pano de fundo as características da nova Previdência. Por outro lado, tornou-se visível e até certo ponto lamentável o boicote ou a sabotagem empreendida por governadores do Nordeste, inclusive o da Paraíba, João Azevêdo (PSB), por mera retaliação política-eleitoral, pelo fato de que Bolsonaro foi eleito presidente, e não Fernando Haddad, do PT, o candidato-substituto de Lula da Silva que foi lançado na perspectiva de repetir a teoria do poste que funcionou com Dilma Rousseff em duas ocasiões e parou no impeachment da ex-mandatária a pretexto de pedaladas fiscais. Não há patriotismo na ação dos governadores nordestinos, que misturam outras razões de mérito duvidoso para não colaborar com o presidente Bolsonaro e com os dirigentes do Congresso Nacional numa polêmica crucial para a vida de trabalhadores e trabalhadoras brasileiras.
É de se notar que antes mesmo que avançassem alguns pontos da reforma da Previdência, os gestores nordestinos e parlamentares aliados já brandiam em manifestações de rua o Não à reforma, simplificando o que é complexo demais para ser reduzido a retóricas eleitoreiras de políticos que estão cavando antecipadamente uma reeleição a mandatos que exercem. Se tais representantes do povo se dessem à pachorra de ouvir a voz rouca das ruas, detectariam com a maior facilidade que imensos contingentes da sociedade querem a reforma previdenciária o quanto antes e querem influenciar para não terem direitos preteridos ou postergados.
O que precisa ficar evidenciado, de maneira solar, é que não está sendo travado um terceiro turno das eleições presidenciais de 2018, em que o capitão reformado do Exército venceu o professor universitário lulopetista. O que está em debate é o futuro do Brasil, daquelas pessoas que tanto contribuíram para que o país crescesse e que não querem senão uma recompensa minimamente justa no estágio de sobrevivência em que se acham. É para estes que deve se voltar a sensibilidade de políticos e governadores demagogos que acabam apostando no quanto pior, melhor. Cabe, como de hábito em ocasiões insanas assim, a advertência providencial: quanto pior, é mesmo mesmo. Porque o Brasil está aí para ser reconstruído.
Nonato Guedes