Alvo de intenso bombardeio na mídia há pelo menos duas semanas, com denúncias sobre conversas travadas com procuradores da Lava-Jato, em que teria discutido estratégias para prejudicar políticos acusados de corrupção, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, pediu licença por uma semana da Pasta, tendo o pedido sido deferido pelo presidente Jair Bolsonaro, conforme publicação no Diário Oficial da União. Em tese, Moro ficará afastado entre os dias 15 e 19 deste mês para trato de assuntos particulares. A assessoria do ministro afirma que ele já vinha cogitando há algum tempo pedir licença, diante do ritmo frenético de trabalho em que se envolveu desde a investidura no cargo.
Moro, que já foi considerado o ministro mais popular do governo Bolsonaro, começou a cair em desgraça com a revelação pelo site The Intercept Brasil de áudios de conversas mantidas por ele, quando juiz-titular da Lava-Jato, com procuradores como Deltan Dallagnol, indicando rumos e dando pistas sobre a condução das investigações em torno de líderes políticos e figurões da República que cumprem penas de prisão, algumas decretadas pelo próprio Moro. O ministro tem passado por uma fase de desgaste e já compareceu à Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos, a requerimento, tendo sido fustigado por parlamentares de partidos de oposição a Bolsonaro, que o acusaram de parcialidade na análise de processos da Lava-Jato, o que teria prejudicado alguns dos implicados.
O ministro também foi chamado a prestar explicações no Senado, mas a expectativa do próprio presidente Bolsonaro de que o bombardeio contra ele fosse esvaziado não se concretizou. Ainda neste final de semana, a revista Veja publica uma alentada reportagem incriminando Sérgio Moro. Intitulada Justiça com as próprias mãos, a matéria exclusiva da Veja menciona diálogos inéditos mostrando que o ministro cometeu irregularidades, desequilibrando a balança em favor da acusação nos processos da Lava-Jato. A reportagem de Veja, como ela informa em Carta ao Leitor, foi produzida em parceria com o site The Intercept Brasil e utiliza como matéria-prima o conjunto de diálogos repassados por uma fonte anônima ao jornalista Glenn Greenwald, editor do Intercept, revelando, de forma cabal, como Sérgio Moro exorbitava de suas funções de juiz, comandando as ações dos procuradores na Lava-Jato.
O presidente Bolsonaro tentou expedir gestos públicos de prestígio e confiança no seu ministro da Justiça, levando-o, por exemplo, para testes de popularidade em jogos de futebol, inclusive, ontem, no Maracanã, na decisão da Copa América que registrou a vitória da Seleção Brasileira Masculina sobre a do Peru por 3 X 1. A própria popularidade de Bolsonaro, entretanto, começa a enfrentar novas oscilações, segundo o Instituto Datafolha, enquanto a de Moro está em queda livre, face à persistência das acusações contra ele e à alegada falta de convencimento do ministro sobre a incriminação feita. O site Revista em Fórum publicou, hoje, artigo de um jornalista ironizando Moro como tendo sido apresentado à opinião pública como o vice-presidente de Jair Bolsonaro. O presidente Bolsonaro, como se sabe, não tem uma boa relação com o vice, general Hamilton Mourão, e nos últimos dias em Brasília circulou a versão de que o mandatário estaria escolhendo antecipadamente um nome para companheiro de chapa quando for disputar a reeleição em 2022. O nome mais cogitado era o de Moro, que, entretanto, perde musculatura política, além de comprometer, também, o seu sonho de vir a ser nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal. As resistências a ele, naquela Corte, são profundas.
Nonato Guedes, com agências