Antes mesmo de ser preso na Operação Lava-Jato por determinação do então juiz Sérgio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já implicavacom o expoente da República de Curitiba, menosprezando, inclusive, frente à frente com ele, as acusações que lhe eram assacadas, envolvendo, por exemplo, a suposta propriedade do sítio em Atibaia, interior de São Paulo, e do tríplex no Guarujá, na capital paulista, mediante alegada transação com a Odebrecht, que teria sido favorecida no governo lulista. Num depoimento a jornalistas para o livro A verdade vencerá, subtítulo O povo sabe por que me condenam, Lula também bateu forte no procurador Deltan Dallagnol, parceiro de Moro e substituto dele no comando da Lava-Jato. O ex-presidente lembrou que em 2015, durante um evento do PT em Brasília, advertira que o partido tinha que tomar cuidado porque havia gente trabalhando para criminalizar o PT. Depois, foi confirmado tudo com o power point do Dallagnol. Quando apresentou aquele power point, se este fosse um país sério, ele teria sido exonerado a bem do serviço público, ironizou Lula.
Deltan Dallagnol apresentou denúncia contra o ex-presidente Lula em 14 de setembro de 2016 num espetáculo que ficou conhecido como o power point do Dallagnol. A performance consistiu num conjunto de suposições e preconceitos do procurador contra Lula, exposto numa série de slides de PowerPoint com apresentação gráfica, tosca e sem qualquer prova que sustentasse as acusações acusa o livro A verdade vencerá, acrescentando que o caso ficou conhecido internacionalmente e foi ridicularizado e condenado pela comunidade jurídica no Brasil e no exterior. Lula desabafou ainda: O preço que vai ser pago historicamente é a mentira contada agora. A Polícia Federal mentiu no inquérito, o Ministério Público mentiu na denúncia e o Moro sabia que não era verdade e aceitou e transformou as mentiras num processo que me condenou.
Lula considerou grave um cidadão (referindo-se a Dallagnol) construir uma mentira escabrosa e, depois de uma hora e meia dizer: Não me peçam provas. Eu tenho convicção. E emendou o ex-presidente, no depoimento para o livro: Um cidadão desse não pode ser sério. Ele só pôde fazer isso porque tinha pactuado com alguém para transformar em verdade aquelas coisas dele. Era a imprensa, liderada pela Rede Globo de Televisão. Eu acho que foi a Globo que construiu aquilo para ele, o pessoal que faz power point para o Fantástico. Contou Lula que, depois disso, eles começaram a andar atrás de todas as minhas palestras, pedindo os textos, coisa que eu não tinha obrigação nenhuma de ter. Em todas as minhas palestras, leio o discurso por escrito e, depois, o que falo de improviso é gravado, fotografado, e ainda dou entrevista em muitos lugares. E a primeira desconfiança deles era de que fossem secretas as palestras! Então, nós temos discurso, temos gravação, temos fotografia. Nada disso interessa para eles. Era preciso dar continuidade à mentira. Aí vem viagem para África, vem porto de Mariel, em Cuba, vem dinheiro para o BNDES. Tudo para eles virou munição para dizer que o PT é uma organização criminosa e, portanto, tudo o que o PT fez foi errado. Eu até brinco com meus advogados. Se no processo mais simples os caras me deram doze anos de cadeia, fico pensando nos mais difíceis.
O ex-presidente citou, então, o caso em que foi prestar depoimento no dia 26 de fevereiro de 2018, envolvendo o Frei Chico, seu irmão: A empreiteira Odebrecht tinha um cara vinculado ao velho Partidão e ele contratou o Frei Chico para dar uma assessoria nas crises da Odebrecht com o movimento sindical. De repente, sou colocado como aquele que trabalhou para arrumar emprego de 3 mil reais para o Frei Chico porque eu tinha feito favor para a Odebrecht e a Odebrecht ia, em contrapartida, dar 3 mil reais para o Frei Chico! Gente, eu sou um ladrão de merda! Eu precisava ser preso por desmoralizar a corrupção. E o coitado do Frei Chico merecia ganhar 10 mil reais se fosse para contratar porque o Frei Chico é um bom sindicalista, sem histórico político, é um cara de cabeça bem-feita. O Frei Chico, que é uma figura bem relacionada no movimento sindical, não precisava passar por isso.
Lula ressaltou ainda: Absurdo é o método, é a montagem da mentira contada. E o que é mais grave nesse processo? O grave é que, como ele está apoiado numa mentira muito grande, a do power point, que é a chamada nave mãe, eles têm que sustentar a todo custo. A Veja, Istoé, essas revistas, são a base de quase todas as investigações. Por exemplo, o apartamento é tudo baseado nas reportagens mentirosas do jornal O Globo. O Moro cita O Globo quinhentas vezes. Então, como isso é baseado em mentira e eles já estão há quatro anos mentindo, eles não têm como sair. Por isso é que eu disso para ele no meu depoimento: Ô Moro, você não tem como me condenar. Você é refém da Globo. E a Globo é refém dele. Um alimenta outro. O que me deixa indignado é o sentimento de injustiça, de canalhice, da mentira mais escabrosa que se inventou neste país.
Nonato Guedes