Interrogado por mais de quatro horas, ontem, pelo juiz Henrique Jorge Jácome de Figueiredo, da Primeira Vara da Comarca de Cabedelo, no Fórum da cidade, o ex-prefeito Wellington Viana (Leto), que chegou ao local usando colete à prova de bala, confirmou o esquema de cartas-renúncias que funcionava na prefeitura da cidade portuária desde 2007, na gestão de José Régis. Revelou que seu maior pecado foi adotar um amigo, ao se referir ao empresário Roberto Santiago, proprietário do shopping Manaíra, que, segundo Leto, era quem dava as ordens na administração municipal e recebia pelo contrato de coleta de lixo e outros serviços.
O ex-prefeito está preso preventivamente desde três de abril do ano passado e detalhou os crimes investigados na Operação Xeque-Mate, buscando, porém, livrar-se da pecha de líder da organização criminosa desbaratada e que teve repercussão na mídia nacional. Leto Viana atribuiu a Olívio Oliveira, Lucas Santino e ao radialista Fabiano Gomes a articulação com o empresário Roberto Santiago para a compra do mandato do prefeito José de Lucena Filho, Luceninha. Santino era presidente da Câmara Municipal e, segundo o ex-prefeito, foi responsável por várias articulações para o recebimento de vantagens indevidas. O ex-vereador foi o primeiro delator do esquema.
De acordo com as revelações de Wellington Viana, o ex-prefeito Luceninha disse a Olívio que estava precisando de dinheiro e, para Fabiano Gomes, que articulou com Roberto Santiago, que tinha interesse em barrar a construção de um shopping em Intermares, Cabedelo. Roberto Santiago não estava comprando um mandato para Leto, estava comprando um mandato para se defender e ter a proibição de um shopping concorrente, esclareceu Leto. O ex-prefeito teve momentos de emoção por ocasião do longo depoimento prestado. Chegou a dizer que se afastou de Deus e que cegou diante da perspectiva de poder. Salientou ter aceito seguir esse caminho por amizade de mais de 37 anos a Roberto Santiago. O empresário se encontra preso desde março, também sob acusação de participação no esquema e já teve negados recursos e apelos a tribunais superiores de Justiça para obter habeas-corpus.
Wellington Viana desmentiu que tenha enriquecido com o dinheiro da corrupção e, da mesma forma, negou a ocultação de bens, garantindo que se tornou um homem rico por ter herdado bens de família. Ao concluir seu depoimento, Leto Viana ressaltou que seu propósito não era o de se defender, mas, sim, o de colaborar com a Justiça, adiantando que continua à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que forem necessários. Depois do ex-prefeito, foi convocada para depor a esposa dele, a vereadora afastada Jaqueline França, que exerceu o direito legal de permanecer em silêncio. Apenas respondeu perguntas pessoais como nome, endereço, etc. O juiz Henrique Jácome afirmou que não faria perguntas, mas o promotor Manoel Cassimiro, mesmo assim, fez indagações. A todas as questões, ela respondeu: Uso meu direito de ficar calada.
Da Redação, com Correio da Paraíba