Comprovando que a Paraíba respira política e não resiste a um quiproquó pela paternidade de obras públicas conquistadas, ganha destaque na mídia a queda-de-braço entre o governador João Azevêdo (PSB) e o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD) tendo como pano de fundo a implantação do Veículo Leve Sobre Trilho, VLT, na cidade-sede do Compartimento da Borborema, uma das regiões mais importantes do Estado. Azevêdo havia pleiteado em audiência ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que fosse agilizado a assinatura de um termo entre o governo do Estado, concessionária e o próprio Ministério visando a transferência para o Estado da faixa de domínio da linha férrea autorizada para Campina e fundamental para viabilizar o empreendimento.
Pela imprensa, o gestor socialista chegou a anunciar para o dia 17 próximo a assinatura do termo com a interveniência do governo federal, através do Ministério da Infraestrutura, tendo sido anunciada a vinda do próprio titular da Pasta, conforme consensuado. Eis que entra no circuito o prefeito de Campina Grande, ligado ao esquema do ex-senador Cássio Cunha Lima, dando conta de uma audiência que manteve diretamente com o presidente da República, Jair Bolsonaro, em Brasília, o qual, inteirado da reivindicação, imediatamente recomendou ao ministro da Infraestrutura total prioridade à demanda apresentada. De acordo com Romero, que está no seu segundo mandato na prefeitura de Campina, a instalação do VLT na cidade é um pleito pelo qual vem batalhando há pelo menos três anos, vindo a ter acolhida excepcional junto a Bolsonaro, a quem apoiou na última eleição presidencial. Azevêdo segue os passos do ex-governador Ricardo Coutinho e alinhou-se na campanha de 2018 com a candidatura do petista Fernando Haddad, ungido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além do mais, João Azevêdo tem sustentado críticas ao governo do presidente Bolsonaro e esta semana acompanhou a orientação da direção nacional do PSB para o fechamento de questão nas bancadas da Câmara e Senado contra o projeto de reforma da Previdência encaminhado pelo Planalto e cujo texto-base acabou sendo aprovado por larga maioria, em primeiro turno, nas sessões e debates de ontem. Os adversários do chefe do Executivo têm dito que o presidente da República mantém-se regularmente informado sobre as posições de Azevêdo e as críticas dele ao governo federal, que se elevaram de tom com a exclusão, pelo relator da reforma da Previdência, Samuel Moreira (PSDB-SP) de Estados e municípios do texto-base.
Para alguns analistas políticos paraibanos, em certa medida acaba sendo salutar para a Paraíba e, no caso específico, para Campina Grande, a divergência entre o governo do Estado e a prefeitura municipal daquela cidade, já que tudo converge para favorecer a Rainha da Borborema. Na prática, outros analistas criticam a postura anti-republicana que prevalece entre o governo do Estado e as prefeituras de Campina Grande e João Pessoa, cujos titulares (o da Capital é Luciano Cartaxo, do PV, que não se alinha com o PT) até agora não foram recebidos em audiência pelo governador João Azevêdo, embora haja demandas que exigem parceria entre as gestões estadual e municipais para equacionamento urgente. O deputado Adriano Galdino (PSB), presidente da Assembleia Legislativa, chegou a formular uma proposta intermediária, pela qual Romero aproveitasse o bom trânsito que detém junto ao presidente Jair Bolsonaro para conseguir recursos e investir em outras obras, já que o Estado havia se comprometido em levar o VLT para Campina. Mas a sugestão chegou tarde, pelo visto.
Nonato Guedes