Embora uma pesquisa do Datafolha revele que o Nordeste é a região onde a reforma da Previdência tem o maior índice de rejeição popular 58% contrários e 36% a favor, a bancada nordestina na Câmara ofereceu 96 votos ao texto-base encaminhado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. Houve 53 votos contrários e duas ausências. A região foi onde o texto-base, votado, discutido e aprovado ontem, teve o menor índice de aprovação entre os deputados 64%, de acordo com levantamento divulgado pelo jornal Diário de Pernambuco, do Recife.
Entre os deputados dissidentes do PSB são contabilizados Felipe Carreras (PE) e Átila Lira (PI), tendo sido registrados dois votos de deputados do PDT do Maranhão e Piauí favoráveis à reforma, contrariando a orientação da cúpula, que fechou questão pela rejeição do texto-base do Palácio do Planalto. As cúpulas partidárias do PSB e PDT ameaçaram punir parlamentares dissidentes, inclusive, com a pena de expulsão, por alegada infidelidade, e a expectativa dominante nos meios políticos e na mídia é sobre os próximos passos das respectivas direções partidárias. No PDT, uma figura de projeção que emergiu da votação como dissidente foi a deputada Tabata Amaral, de São Paulo, cuja posição favorável à reforma chocou diretamente o ex-presidenciável Ciro Gomes, entre outros dirigentes da agremiação.
Tabata, que é alvo de controvérsias no território das redes sociais, já recebeu propostas para filiação de outros partidos, inclusive do PSL, do presidente Jair Bolsonaro. A oferta nesse sentido partiu do deputado federal Alexandre Frota (SP), que elogiou a coragem da deputada pedetista e anunciou que a agremiação do presidente da República está pronta para recebê-la de portas abertas. No conjunto da bancada nordestina na Câmara que contribuiu para a aprovação do texto-base da reforma da Previdência, a Paraíba participa com percentual marcante. De 12 deputados federais que compõem a bancada paraibana, a maioria votou com o Planalto. Os deputados Efraim Filho, do DEM, Aguinaldo Ribeiro, do PP, Julian Lemos, do PSL, Ruy Carneiro, Pedro Cunha Lima e Edna Henrique, do PSDB, além de Wellington Roberto (PL), fecharam com o texto-base. Por sua vez, adotaram posição contrária os deputados Gervásio Maia Filho, do PSB, Frei Anastácio Ribeiro, do PT, Hugo Motta, do PRB,e Damião Feliciano, do PDT e Wilson Santiago, do PTB.
Hoje, a assessoria de imprensa do PDT nacional informou que o partido abrirá um processo interno na Comissão de Ética do partido contra oito deputados que contrariaram a orientação partidária e votaram favoravelmente ao texto-base da reforma da Previdência. A assessoria revelou que diante da divergência dos votos desses parlamentares em relação a um posicionamento aprovado por maioria do diretório nacional, tem um rito estatutário que vai ser seguido. A decisão final caberá ao diretório nacional do partido. O estatuto do PDT prevê as sanções de advertência, suspensão e expulsão a filiados. A partir da próxima semana, a Comissão de Ética se reunirá para avaliar os casos. Os deputados poderão apresentar suas defesas. Os argumentos serão avaliados e comporão um parecer da comissão a ser entregue à Executiva nacional do partido. O líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE) chegou a encaminhar no plenário o voto Não à proposta de Bolsonaro. Horas antes, a deputada Tabata Amaral havia publicado nas redes sociais um vídeo no qual justificava seu apoio à reforma. Figueiredo chamou de futuros traidores os pedetistas que desobedecessem à orientação. No vídeo, Tabata disse seguir sua consciência e buscou se distanciar do presidente Bolsonaro, descartando ter tomado sua decisão em troca do recebimento de emendas parlamentares. Ela foi a sexta mais votada em São Paulo e é cotada para disputar a prefeitura da capital paulista.
Apesar de estar previsto, ainda, ritual de votação do texto-base da reforma da Previdência em segundo turno na Câmara, com perspectiva de referendo no Senado, começam a se desenrolar, em paralelo, as discussões sobre a votação da reforma tributária, a próxima da agenda chamada de positiva do governo Jair Bolsonaro. O deputado federal paraibano Aguinaldo Ribeiro, do PP, apontado pela mídia sulista como um dos expoentes do Centrão, grupo parlamentar conservador, já foi escolhido como relator da proposta de reforma tributária. Aguinaldo teve empenho destacado nos bastidores para a aprovação do texto da reforma previdenciária.
Nonato Guedes