O deputado federal Gervásio Maia Filho (PSB-PB) postou, em rede social, na internet, a informação de que acabara de votar contra o projeto de reforma da Previdência Social encaminhado pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso e que acabou aprovado por expressiva maioria, em primeiro turno, na sessão de ontem da Câmara. De bate-pronto, uma internauta paraibana reagiu no espaço abaixo da mensagem de Gervásio: Não esqueceremos. O seu mandato não será reeleito. Este é o primeiro mandato que Gervásio exerce na Câmara Federal, depois de ter se revezado em legislaturas na Assembleia do Estado, que chegou a presidir.
O episódio reflete a reação de eleitores insatisfeitos com a atuação de seus representantes nas Casas Legislativas, ora porque votam a favor de matérias enviadas pelos governos, ora porque se manifestam contrários a essas matérias. No caso de Gervásio, além da convicção pessoal de que o projeto de reforma da Previdência prejudica trabalhadores, ele acompanhou a orientação da cúpula nacional do PSB que fechou questão contra o projeto na votação na Câmara e acenou com a possibilidade de expulsão dos que discordassem da orientação. Já há algum tempo, parlamentares têm estado na berlinda por votos proferidos e decisões tomadas e as reações se manifestam não apenas em redes sociais, mas também no contato direto entre eles e os supostos eleitores.
O ex-senador Cássio Cunha Lima e seu filho, o deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB da Paraíba, chegaram a ser hostilizados em aeroportos, em Brasília, por terem se posicionado pelo impeachment da ex-presidente da República, Dilma Rousseff, do PT. Imagens que viralizaram em redes sociais comprovaram que, nesses casos, os manifestantes hostis aos parlamentares tucanos eram simpatizantes ou filiados do PT, que recorreram a expressões de baixo calão para protestar contra Cássio e o filho, chamados de golpistas, jargão que o PT adotou para qualificar o processo de afastamento de Dilma, acusada de prática de pedaladas fiscais e que foi substituída pelo vice Michel Temer (MDB), que concluiu o mandato.
Os ataques (contra e a favor) na Era Bolsonaro se intensificaram mais ainda, sobretudo em redes sociais, território predileto do presidente e de seus filhos para a comunicação com segmentos da sociedade sobre coisas do governo e assuntos gerais. Um exemplo de parlamentar que está sendo bombardeada em redes sociais desde ontem é a deputada Tabata do Amaral, do PDT de São Paulo, conhecida pela juventude, beleza e pela desenvoltura na abordagem de temas como os impasses da Educação no Brasil. Tabata resolveu manifestar sua intenção de voto no projeto de reforma da Previdência, no primeiro turno, ontem, e passou a ser alvejada por pedetistas e outros opositores do governo Bolsonaro. No Twitter, uma das postagens referia-se à deputada como bonitinha mas ordinária, parte do título de uma peça do dramaturgo Nelson Rodrigues, já falecido. O PDT, através do líder nacional Ciro Gomes, que foi candidato a presidente da República em 2018, é ex-ministro da Integração Nacional e ex-governador do Ceará, também acenou com o risco de expulsão aos filiados e a filiadas que votassem com o governo, ontem. Diante do endurecimento da pressão para que Tabata seja punida, a deputada começa a receber sondagens de outros partidos para se filiar.
A reação popular contra os políticos é, hoje, um moedor de carne, seja através de redes sociais, seja nas ruas, comenta um deputado federal paraibano, que prefere falar em off para não se desgastar perante a opinião pública. Ele nota que ameaças sutis de não reeleição de parlamentares ou de queimação de candidaturas suas nas próximas eleições são a parte mais visível do difícil processo de convivência social e interpessoal da conjuntura vigente. A democracia é muito cara, ironiza o parlamentar, numa alusão aos protestos que eclodem e que têm se acumulado com a divulgação de escândalos nas mais diferentes esferas. O colunista Leandro Mazzini, que assina a coluna Esplanada em vários jornais do país, informa hoje: Parlamentares retiraram dos paletós e tailleur o boton tão usado como abre-portas e ostentação de mandatos. Nas ruas e aviões, nem pensar. Medo de vaia e xingamento.
Nonato Guedes