A idade-limite para a nomeação de um embaixador, pelas regras vigentes no Brasil, é 35 anos. E mal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, completou essa idade, foi premiado com o anúncio de que deverá ser o embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Há outros requisitos mais exigentes, para alguém tornar-se embaixador. Por exemplo: ter carreira diplomática, de preferência passando pelo Instituto Rio Branco, que é formador de valores e que, em priscas eras, foi a menina dos olhos do ex-senador paraibano Marcondes Gadelha, como ele me confessou certa vez. Eduardo Bolsonaro não é concursado, não tem passaporte de diplomata (tem, sim, o passaporte diplomático), mas é filho do homem. Querem credencial mais importante para uma nomeação, depois que o toma lá dá cá voltou a todo vapor na votação da reforma da Previdência, aprovada em primeiro turno na Câmara?
O provável futuro embaixador brasileiro junto à Casa Branca já adiantou uma de suas prioridades em Washington: nas horas vagas, passear com Olavo de Carvalho, o astrólogo-guru da família Bolsonaro, baseado na Virgínia, e dar uns tiros por aí. Para não perder o costume, já que é hábito no clã Bolsonaro dar tiros por aí, dentro do Brasil, e lutar com sofreguidão para fazer valer uma lei liberando ostensivamente a posse e o porte de armas o que, por enquanto, está subjudice e foi retirado de pauta estrategicamente pelo próprio Planalto porque não combina com descanso ou aposentadoria para velhinhos e velhinhas que já contribuíram demais para este País ser um pouquinho melhor.
Na parte, digamos, séria, de uma entrevista que ousou conceder sobre sua provável designação para embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o filho do presidente especulou sobre as vantagens que sua ida para lá trará para o nosso país, a partir da interlocução privilegiada que ele tem com canais de poder, valendo lembrar que na desajeitada audiência de Bolsonaro pai com Donald Trump ao pé da lareira na Casa Branca o filho Eduardo, numa quebra evidente de protocolo, foi admitido no semicírculo em que se discutiram abobrinhas. Parecia até ter mais prestígio do que o pai, conforme o relato de jornalistas estupefatos com o convescote que tomou o lugar do que era para ser uma missão oficial. Mas, pensando bem, em se tratando do clã Bolsonaro, às favas todas as regras de protocolos. O que interessa é a camaradagem.
É possível que algo de bom resulte da passagem de Eduardo pelos Estados Unidos, do ponto de vista de negócios comerciais e, possivelmente, intercâmbio tecnológico. A oportunidade parece que cairá do céu para que o deputado-diplomata possa aprimorar conhecimentos sobre como manipular robôs em redes sociais, um dos seus esportes favoritos, juntamente com irmãos e o pai. Mal de família….Abstraindo tudo isso, cabe chamar a atenção para uma outra peculiaridade do Brasil destes tempos. Consiste no protagonismo exacerbado de que passou a gozar o deputado Rodrigo Maia, do DEM-RJ, na garupa da aprovação em primeiro turno da proposta de reforma da Previdência encaminhada pelo governo federal.
Que ninguém tire os méritos de Rodrigo. Ele teve paciência chinesa para costurar acordos que levaram à vitória no plenário da Câmara, em primeiro turno, mesmo passando por cima das provocações partidas do núcleo duro do bolsonarismo encastelado no Palácio do Planalto. O choro de Rodrigo, ao fim da epopeia travada no Congresso, expressou o seu desabafo diante das estocadas que recebeu, em série, do próprio presidente da República, que, como se sabe, adora fazer gracinhas com todo o mundo, embora não tenha fair-play para aceitar a recíproca. Mas o protagonismo de Rodrigo foi necessário diante da incapacidade de articulação da base governista ortodoxa, que parecia não entender bulhufas de negociação política e, muito menos, de reforma da Previdência.
No fundo, no fundo, a predominância do presidente da Câmara Federal no episódio consolidou as versões de que está em curso no Brasil destes tempos a vigência do semiparlamentarismo no âmbito do governo. Nunca, na história recente, o Congresso teve papel tão influente, tão decisivo, na votação e aprovação de reformas indispensáveis que foram proteladas em governos anteriores, inclusive os do PT, mas avançaram com rapidez fulminante em seis meses da Era Bolsonaro. Tirar o chapéu para Rodrigo Maia não significa passar uma esponja nos seus defeitos e nos erros que tenha cometido. É fazer justiça naquilo que ele fez de certo e que, talvez sem ele, não tivesse alcançado o desideratum que alcançou.
Nonato Guedes