O Palácio da Redenção, sede do Poder Executivo da Paraíba, que deverá ser transformado em Museu Histórico, aberto à visitação pública, conforme a iniciativa do governador João Azevêdo, do PSB, foi construído em 1586, no estilo barroco, pelos jesuítas, os primeiros missionários a chegar à Paraíba com Martim Leitão. Inicialmente, serviu de residência para os inacianos, como eram chamados os discípulos de Inácio de Loyola, num dos períodos da colonização. Foi residência dos jesuítas até o ano de 1771, quando passou a ser residência oficial do governo da Paraíba. Em 1773 foi incorporado à Fazenda Pública pelo Papa Clemente. Na década de 1980 o Palácio foi alvo de polêmica com repercussão nacional devido à denúncia do ex-combatente da Segunda Guerra Plácido de Oliveira de que o terraço acolhia símbolos da cruz suástica, referência ao nazismo. O governador Burity recusou-se a atender aos apelos para a retirada dos mosaicos mas o governador Antônio Mariz, em 1995, determinou a destruição dos símbolos.
O prédio abrigou, ainda, o Lyceu Paraibano, a Escola Normal de João Pessoa, Assembleia Legislativa e foi sede provisória do governo e suas repartições. Em seus jardins jazem os restos mortais do ex-presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, assassinado em 26 de julho de 1930 no Recife, na Confeitaria Glória, por João Dantas, adversário político. Sugere o colunista Abelardo Jurema, do Correio da Paraíba, na edição de hoje, que todas as entidades culturais da Paraíba, que todas as entidades culturais do Estado deveriam aplaudir e apoiar a iniciativa do governador, lembrando que o Palácio conserva paredes centenárias, mobiliário, obras de arte e um histórico de lutas e conquistas associadas à trajetória da Paraíba.
Abelardo Jurema, que é membro da Academia Paraibana de Letras, sugere que, a exemplo da Casa Rosada, em Buenos Ayres, e de vários outros palácios espalhados pelo mundo, o Palácio da Redenção deveria ser utilizado tão somente para visitação de turistas e de paraibanos, além de recepções oficiais a diplomatas ou altas autoridades brasileiras e internacionais, evitando a degradação e maus tratos a que está submetido hoje, funcionando como uma repartição pública. Além do Palácio da Redenção, o Executivo paraibano dispõe do Palácio dos Despachos, no Centro Administrativo, e da Granja Santana, em Miramar, residência oficial de governadores, adquirida no final do governo João Agripino Filho, nos primórdios da década de 1970.
A polêmica da suástica Na década de 1980, o Palácio da Redenção foi alvo de uma polêmica que repercutiu na imprensa nacional, a partir de denúncias de um ex-veterano de guerra, José Plácido de Oliveira, sobre a existência de cruzes suásticas, símbolos do nazismo, nas dependências do PR. Há quase 50 anos o Palácio convivia com ilustrações incrustadas no piso do terraço que fica nos fundos e dava acesso à porta privativa do gabinete do governador e à porta de entrada do Gabinete Civil e da Secretaria de Comunicação Social. O mosaico tinha aproximadamente 23 metros de comprimento por 7 e meio de largura, no espaço entre a Cantina e o Corpo da Guarda. As denúncias de Plácido suscitaram controvérsia entre historiadores paraibanos. Houve quem especulasse que o mosaico apareceu no auge do período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, como houve quem afirmasse que teria sido colocado durante a interventoria de Argemiro de Figueiredo, pelos idos de 35. Argemiro o teria recebido de presente como doação particular e reservou-lhe aquela área, que já funcionara como alpendre onde antigos governadores se reuniam com amigos e autoridades para conversas em frente a um jardim, posteriormente abolido.
Através do extinto semanário O Momento, Plácido desencadeou uma série de artigos, com fotografias, exortando o então governador Tarcísio Burity a retirar o símbolo e entregá-lo como troféu de guerra à Associação dos Ex-Combatentes da Paraíba. Plácido pediu apoio da Associação mas o presidente Agripino Paulo Medeiros respondeu que só tomaria posição depois de ouvir a diretoria e evitava até mesmo dar opinião pessoal a respeito. Num depoimento ao correspondente de O Estado de São Paulo em João Pessoa, Plácido dizia que a persistência do símbolo em Palácio era uma ofensa a milhares de brasileiros que tombaram na Itália. E provocou: Tenho certeza de que, se em lugar da suástica a decoração tivesse a foice e o martelo, não seria conservada por tanto tempo. O historiador e jornalista Osias Nacre Gomes, que foi secretário de Imprensa do presidente João Pessoa e diretor do jornal oficial A União, aventava duas hipóteses para a ocorrência: Esses arabescos teriam sido acrescentados durante o fastígio do governo Vargas a mando de alguém ou por fantasia do próprio arquiteto. Osias, já falecido, que frequentava muito o Palácio como diretor do jornal oficial, confessou-se até surpreso, alegando não lembrar-se de ter visto o símbolo nazista decorando o terraço.
O então governador Tarcísio Burity não ficou incomodado com o movimento dos ex-combatentes liderados por Plácido. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Burity declarou: Confesso que tenho maiores preocupações do que os mosaicos do Palácio. Não acho que os retirando vá mudar o curso já percorrido pela história. Sou antinazista com a mesma convicção com que sou anticomunista. Se o comunismo ainda resiste ao repúdio dos verdadeiros democratas, o nazismo é um cadáver sepultado pela consciência de um mundo livre. Não seriam alguns metros quadrados de mosaico que iriam ressuscitá-lo. O secretário de Comunicação do governador Burity, Carlos Roberto de Oliveira, emendava: Destruir o mosaico seria o mesmo que destruir todos os livros sobre Hitler e isso não teria nenhum valor político ou histórico. No breve governo que empalmou, a partir de 1995, o governador Antônio Mariz mandou retirar os mosaicos do Palácio. Dizia-se incomodado com a visão que tinha dos símbolos sempre que ia a Palácio despachar. A decisão de Mariz foi aplaudida por intelectuais como a jornalista e escritora Fátima Araújo, que assim declarou em artigo no Correio da Paraíba, publicado em 05 de fevereiro de 95: Considero da maior lucidez a decisão do governador Antônio Mariz. Um governante de pulso age assim, porque a marca deixada pelo nazismo, na História, é uma lembrança triste encharcada de sangue.
Nonato Guedes