O ex-deputado federal e promotor de Justiça aposentado Agassiz Almeida, em Carta Aberta aos Procuradores da Operação Lava-Jato, veiculada em página inteira no jornal Correio da Paraíba, adverte para a grave conjuntura que o país vive e salienta que cabe a cada um dos brasileiros, em especial aos agentes do Ministério Público, assumir a desafiadora função de calar o cinismo, apontar os oportunistas, desvendar as tramas que levaram o Brasil a este fanatismo insensato que nos lança uns contra os outros. Agassiz faz uma dura exortação: Cessem com investigações cinematográficas que abalam o país e desorganizam os esforços para o reencontro com o desenvolvimento. Afastem-se das vantagens de uma indústria da delação premiada para forjar provas e abrir espaço para a ambição dos oportunistas. Reneguem a busca por aplausos fáceis, combatam os interesses escusos de poderosos grupos nacionais e internacionais.
Ele lembra que, pessoalmente, enfrentou pesados desafios e cegas ditaduras no Brasil e no mundo (teve o mandato cassado pela ditadura militar instaurada em 1964 por suas atitudes legalistas) e qualifica o ministro da Justiça, Sérgio Moro, como impostor e maquiavélico julgador da Lava-Jato, acrescentando que no ministério ele se faz acompanhar de cúmplices investigantes na busca insana de abocanhar mais de dois bilhões de reais de uma multa arrancada da Petrobras nos Estados Unidos para a criação de uma duvidosa fundação. Agassiz vê o Brasil de hoje encurralado entre a mediocridade e o lunático, sem lugar para a esperança por justiça. E trata como grande farsa a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cumpre prisão em Curitiba. Para Agassiz, Lula foi ultrajado por forjadas provas arrancadas de delatores desesperados através de um criminoso conluio entre os que investigam e os que julgam.
– Na atual conjuntura do país, a idiotia exalta o fanatismo para negar a inteligência. Zomba da educação e renega a cultura. Afinal, para onde querem levar este país? indaga, com veemência. A Lava-Jato, na sua opinião, produziu tipos de pessoas que se fazem vestais do moralismo público, quando não passam de farsantes. E muitos, ainda, como os carneiros de Pannunzio, acreditam neste impostor (Sérgio Moro). Na interminável contenda entre o idealismo que constrói e a estupidez, a imbecilidade pede passagem. O horror à inteligência e ao diálogo ata-os à mente preconceituosa e a um fanatismo que agride a racionalidade. Nestes tempos não se pensa, lançam-se chavões, não se interroga, impõem-se ideias, não se governa, faz-se apologia ao besteirol!.
E conclama os Procuradores: Exerçam a função de agentes do Estado, como vigilantes impávidos da ordem jurídica e do imparcial processo legal; jamais se façam instrumentos de ambições desenfreadas daqueles que carregam apetites pessoais e não a imparcialidade dos magistrados dignos. Na escalada de certos vultos ao poder, retratam-se os desastrados resultados de suas suspeitas condenações investigativas. Verbera mais Agassiz: Só os tipos humanos amesquinhados vivem sempre no joguetear das artimanhas, contanto que as suas ambições sejam saciadas. Procuradores: repilam o moralismo de Tartufo que envolve uma simbologia repugnante. No momento das decisões difíceis e temerárias, encontram-se os verdadeiros homens. Que horas sombrias atravessa o país. A bestialidade fez-se horda e pulula pelos poderes, estende tentáculos por toda a sociedade. Entidades que estiveram sempre na vanguarda em defesa dos direitos humanos e da ordem democrática, como a OAB, a ABI, a CNBB e tantas outras, quedam-se, hoje, cúmplices de um silêncio condenável e se posicionam naquela grotesca postura de Pilatos.
Agassiz Almeida conclui seu libelo exortando os procuradores a pôr na consciência de cada um o dever a ser cumprido. Procuradores, os senhores não se inebriem diante das luzes dos holofotes televisivos nem se agachem aos aplausos fáceis das multidões frenéticas. Jamais se sirvam de pau-mandados de carreiristas e oportunistas. Olhem a história dos povos e do próprio Brasil. Onde estão aqueles que se fizeram algozes de Frei Caneca, de Vargas, de Juscelino e de Brizola? No esquecimento e na lata do lixo da história. A que calvário infame os senhores arrastam o ex-presidente Lula? A quem os senhores serviram para essa nefasta e aberrante aventura judicante? Basta, senhores procuradores!.
Nonato Guedes