Paulo Guedes, pode ir para casa. A reforma da Previdência não passará. Foi com esse post arrogante que o deputado federal Paulo Pimenta (PT) dirigiu-se ao ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, nos momentos que antecederam a votação em primeiro turno, na Câmara, da proposta da nova Previdência. Pimenta estava desinformado a reforma passou e com folga. Agora, oposicionistas e esquerdistas escolhem como bode expiatório a deputada federal Tabata Amaral, do PDT-SP, por ter votado favoravelmente à reforma.
Tabata, lembrem-se, foi saudada com foguetório quando desancou na Comissão de Educação o ministro Weintraub. Ao discordar da orientação da cúpula do PDT, que fechou questão contra a reforma da Previdência, caiu em desgraça, virou a Geni da esquerda. Ciro Gomes, o descontrolado ex-presidenciável do PDT, tomou-se de ira contra Tabata, a quem, antes, tratava com afetividade. Os Ferreira Gomes do Ceará são conhecidos por vários episódios, inclusive, truculentos. Cid, o irmão de Ciro, travou bate-boca com petistas e soltou o jargão: O Lula está preso, babacas!. Eles se revezam na baixaria: Cid ataca Lula, Ciro ataca Bolsonaro.
A deputada de primeiro mandato Tabata Amaral foi adotada por políticos de oposição e de esquerda porque a eles pareceu interessante e com credenciais para protagonizar papel de liderança no cenário sombrio de valores no País, onde o deputado Eduardo Bolsonaro, filhinho do presidente Jair Bolsonaro, investe todas as suas fichas na sua nomeação para embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Depois que votou pela reforma da Previdência, passou a ser chamada de bonitinha, mas ordinária (referência ao título de uma peça do dramaturgo Nelson Rodrigues). Ciro, em particular, está inconsolável com a suposta guinada de Tabata. Apostava alto na menina.
É preciso dizer, todavia, que Tabata não enganou ninguém. Ela nunca se assumiu como teórica de posições ideológicas de esquerda. Indispôs-se com o ministro da Educação porque este havia passado dos limites. A esquerda é que pregou nela o rótulo de esquerdista para chamá-la de sua. Deu-se o mesmo com o PT quando incensou a deputada Manuela DAvila, egressa do PCdoB, indicando-a para vice de Fernando Haddad em 2018. Manuela havia lançado sua candidatura a presidente da República, mas, lá, da cadeia, o ex-presidente Lula jurou que estariam juntos num mesmo palanque. Premonição? Que nada! Cálculo, estratégia política. O PT desencadeou a caça a Manuela e, enfim, seduziu-a.
Quanto a Tabata, enfureceu, por igual, expoentes da mídia. Um articulista renomado da mídia sulista qualificou-a de Juan Guaidó de saias, numa analogia com o presidenciável venezuelano que tenta, debalde, apear Nicolás Maduro do poder, a um custo muito alto para o povo daquele país. Tabata é um quadro de valor, independente de postura ideológica. Passa a impressão, também, que é do diálogo, que sabe conviver com o contraditório. Reagiu ao seu fuzilamento questionando a suposta coerência das esquerdas no Brasil e pediu que a deixassem em paz, com sua consciência. No governo Lula, quando da votação de um arremedo de reforma da Previdência, dissidentes petistas foram expulsos da agremiação porque não seguiram as ordens para votar a favor do Planalto. Heloisa Helena, Luciana Genro, o deputado Babá, entraram no índex da cúpula petista. O algoz de hoje é Ciro Gomes, eterno presidenciável do PDT.
É fundamental deixar claro que a fidelidade partidária é importante para proporcionar homogeneidade a partidos políticos e eliminar o cada um por si que costuma predominar nas hostes de agremiações, tanto à esquerda como à direita. Mas não está escrito em nenhum estatuto partidário, em nenhum regimento interno, que fidelidade tenha que ser uma camisa de força, imposta por cúpulas a filiados como se estes fossem carneirinhos, condenados, a vida toda, a dizer Amém ao que emana das direções. No caso de Tabata, ele postou vídeos esclarecendo sua posição e deixando claro que votou favoravelmente ao projeto da reforma previdenciária por convicção própria, não como recompensa por ter sido supostamente favorecida com a liberação de emendas pelo governo Bolsonaro. Como a situação está radicalizada, não querem, sequer, dar o direito de defesa a Tabata, o que mostra a quantas anda a democracia à brasileira, expressão ironizada certa vez pelo célebre jurista Sobral Pinto. No fundo, o PDT está se mordendo porque perde um quadro com desenvoltura e jeito de liderança. Na prática, confirma-se que nem sempre o que as cúpulas impõem é acatado por quem está na base, em contato mais direto com os eleitores.
Nonato Guedes