No próximo dia 20 completam-se cinquenta anos do primeiro pouso do homem na superfície da Lua, através de uma bem-sucedida experiência com a marca registrada do pioneirismo de uma superpotência: os Estados Unidos. Os mais céticos duvidavam que o homem tivesse pisado na lua; alguns qualificavam o noticiário da televisão de blasfêmia, outros profetizavam no horizonte o fim do mundo. Na prática, foi uma grande aventura humana. Como disse Neil Armstrong, o primeiro astronauta a desembarcar do Eagle, o módulo lunar, este é um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para a humanidade. Disse isso e fincou uma bandeira americana no solo lunar. Como na Lua não há vento, a bandeira, para ser vista, teve de ser esticada com um arame.
Foi uma proeza prodigiosa e, no entanto, a TV era em preto e branco, telefonemas a distância só com a ajuda de telefonista e McLuhan ainda tinha o desplante de chamar o mundo de aldeia global anota Roberto Pompeu de Toledo em ensaio publicado na revista Veja, recordando o fato histórico. Depois de Armstrong, desembarcou do módulo lunar Edwin Aldrin. O terceiro integrante da missão, Michael Collins, continuou em órbita, a bordo da nave-mãe Columbia. A nave-mãe e o módulo lunar, acoplados, compunham a Apollo 11. Uma delicada operação de desacoplamento foi acompanhada pelos técnicos da Nasa em Houston, no Texas, com a respiração suspensa. O módulo lunar, em vez de águia, mais parecia uma aranha, com suas gigantescas patas metálicas.
Armstrong registrou em livro as primeiras sensações de estar com os pés no solo lunar: O céu é negro, muito negro. Ainda assim, parecia dia ao olharmos pelo nosso visor. É uma coisa muito peculiar, mas a superfície parecia muito quente e convidativa. A situação era como a de sair com um calção de banho para pegar um pouco de sol. Do visor, a superfície parecia bronzeada. Não sei a que atribuir isso, porque mais tarde, quando tive o material nas mãos, não era bronzeado de forma alguma. Era negro, cinza. É por algum tipo de efeito de luz que pelo visor a superfície parecia feita mais de areia do deserto do que de areia negra. O voo à Lua transcorria no quadro da corrida espacial travada entre os Estados Unidos e seu rival na chamada Guerra Fria, a União Soviética. Até porque se tratava, também, de uma operação de propaganda, a Nasa pôs a circular, nos mínimos detalhes, nos dias que antecederam o voo, o que esperava os astronautas. Explicou que se um deles caísse de bruços na Lua conseguiria se levantar em dez minutos, flexionando os braços;mas, se caísse de costas, ficaria como tartaruga virada, e teria de agitar braços e pernas até se posicionar de bruços e iniciar a flexão. Também revelou que durante o passeio lunar Armstrong e Aldrin usariam fralda e que o material expelido, se sólido, ficaria guardado num compartimento esponjoso e, se líquido, escorreria para uma bolsa cavada na perna direita do traje.
Claro que foi show, foi espetáculo. A imprensa encarregava-se de divulgar, mundo afora, semelhantes aspectos da empreitada. Os três astronautas da Apollo 11 tinham 39 anos, ou já completos ou prestes a completar. Armstrong era o único que não provinha de carreira militar era engenheiro aeronáutico. A jornalista italiana OrianaFallaci, célebre por suas entrevistas e perfis atrevidos, escreveu um livro sobre o programa espacial americano, conhecia os astronautas e afirmou, sobre Armstrong: O seu modo de pensar e de viver é tão rígido quanto uma operação aritmética (…) Nunca leu um romance ou uma poesia, nunca admirou um quadro, nunca foi a um concerto, nunca teve prazer com qualquer coisa que não fosse uma hélice ou um reator. Sobre Aldrin, Fallaci disse que era um presunçoso, que invocou um determinado direito divino dos EUA na corridaespacial: Deus está conosco, não com os russos. Neil Armstrong morreu em 2012, aos 82 anos. Os dois outros sobrevivem, com 89 anos completos ou a completar. Armstrong optou por vida reclusa: não dava entrevistas, raramente aparecia em público. Aldrin enfrentou o alcoolismo e a depressão e travou batalha judicial com os filhos, estes pretendendo interditá-lo por falta de condições para gerir seus bens, ele acusando-os de roubo. Collins foi quem melhor se deu na vida pós-Lua: ocupou altas funções no Departamento de Estado, foi diretor do Museu de Aeronáutica e Espaço e trabalhou na indústria aeroespacial. Em 1961, o presidente John Kennedy anunciou ao Congresso o projeto de fazer descer na Lua um astronauta. Sucessivos voos de naves Apollo foram se aproximando desse fim até a apoteose da Apollo 11. Que entrou definitivamente para a História, queiram ou não as teorias circundantes que ainda hoje pululam sobre o significado da aventura espacial americana.
Nonato Guedes, com Veja