A inauguração, hoje, do aeroporto Gláuber Rocha, de Vitória da Conquista, a 518 quilômetros de Salvador, Bahia, gerou um novo quiproquó envolvendo o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e governadores do Nordeste. O alvo, desta feita, é o governador baiano Rui Costa, do Partido dos Trabalhadores, que decidiu não participar da entrega da obra devido à presença de Bolsonaro e ao seu esforço para capitalizar os dividendos da obra, na qual foram investidos recursos federais e estaduais. O governador baiano acusou o Planalto de reservar espaço para 500 convidados seus, marginalizando convidados dele (governador), e por isso decidiu não comparecer ao evento, lamentando, ainda, o que chamou de baixarias cometidas pelo presidente contra os governadores do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, e da Paraíba, João Azevêdo, do PSB.
Em entrevista a uma emissora de rádio baiana, o presidente Jair Bolsonaro deplorou o comportamento do governador Rui Costa, que retirou a Polícia Militar da segurança da comitiva presidencial convidada para a cerimônia, mas informou que em face disso a segurança passaria a ser feita, exclusivamente, pela Polícia Federal. Gláuber Costa foi um cineasta de prestígio internacional, tido como um dos expoentes do chamado Cinema Novo, que revolucionou a arte em plena ditadura militar instaurada em março de 1964 no país. Gláuber morreu em 1987 e entre suas produções constam Terra em Transe e Deus e o Diabo na Terra do Sol. Sua filha, Paloma, que é cineasta, desistiu de participar do evento, diante dos incidentes verificados envolvendo o presidente da República e o governador da Bahia.
Governadores do Nordeste, que se solidarizaram com Rui Costa e reforçaram o repúdio ao posicionamento do presidente Jair Bolsonaro, já estão agendando para segunda-feira, na Bahia, uma reunião do consórcio de governadores da região, formado para defender interesses específicos dos Estados nordestinos, e já houve a informação de que a postura de Bolsonaro no trato com entes da Federação estará na pauta dos debates. O presidente inflamou os ânimos na sexta-feira, por ocasião de entrevista a correspondentes estrangeiros, quando ordenou ao ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que não liberasse verbas para o governador do Maranhão, Flávio Dino, por ele classificado como o pior entre esses governadores de paraíba. O presidente referiu-se, ainda, ao governador da Paraíba, João Azevêdo, do PSB, como intragável.
Os incidentes com gestores nordestinos estão repercutindo em tom de preocupação em Brasília junto às bancadas de senadores e deputados federais que representam os Estados e que avaliam estar em curso uma discriminação contra as reivindicações da região do Polígono das Secas, o que, conforme alguns deles, é inadmissível e fere a própria Constituição, podendo abrir espaço para instauração de um processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O presidente da República, entretanto, já se manifestou negando qualquer sentimento revanchista contra o povo do Nordeste e observando que a briga se dá com governadores que distorcem os fatos em seus Estados e se recusam a dar o crédito às obras e investimentos do governo federal na região.
O aeroporto Gláuber Rocha, em Vitória da Conquista, é uma obra projetada para acolher 500 mil passageiros/ano e nele foram investidos R$ 75 milhões do governo federal e R$ 31 milhões do governo do Estado, que se beneficiou de emendas de bancada apresentadas por parlamentares que foram eleitos na Bahia. O governador Rui Costa explicou, no entanto, que as emendas foram liberadas ainda no apagar das luzes do governo do presidente Michel Temer, do MDB, daí porque considera que o presidente Jair Bolsonaro, que foi investido no cargo em janeiro, tenta se aproveitar, de maneira oportunista, dos dividendos do melhoramento.
Nonato Guedes, com sites e agências