Apesar dos afagos que o presidente Jair Bolsonaro procurou fazer, ontem, ao Nordeste, na inauguração do aeroporto Glauber Rocha em Vitória da Conquista, no interior da Bahia, aliados políticos do mandatário temem que ele tenha perdido votos importantes na bancada nordestina, que seriam essenciais para a liquidação da aprovação da reforma da Previdência em segundo turno, prevista para agosto na Câmara dos Deputados. Os comentários são de que repercutiram negativamente os ataques do presidente aos governadores da Paraíba, João Azevêdo (PSB) e do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, mesmo entre eleitores declarados do ex-candidato a presidente e capitão reformado do Exército.
Na estratégia para recompor sua imagem entre os nordestinos, o presidente insinuou raízes familiares com a região e identidade com as necessidades dos mais pobres que habitam o semi-árido, elencando obras e realizações executadas em diferentes localidades, sem distinguir Estados. Na entrevista a correspondentes estrangeiros, Bolsonaro já havia se queixado que governadores nordestinos omitem dos seus representados a participação do governo federal em investimentos de infraestrutura, o que teria se verificado com o próprio governador da Bahia, Rui Costa, do PT, acusado pelo Planalto de querer capitalizar sozinho os dividendos das obras do aeroporto da cidade de Vitória da Conquista, embora tenha havido participação do governo federal. Os aliados petistas insistem, porém, em que o apoio do governo federal se deu nas gestões petistas, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-presidente Dilma Rousseff.
Junto a interlocutores mais sensatos do presidente da República a preocupação é com o isolamento político a que ele está fadado, em virtude de atitudes consideradas incorretas que têm sido tomadas nestes seis primeiros meses de administração e que afastam apoiadores ao invés de conquistar adesões. Dá-se como exemplo que ainda não havia passado a poeira da desavença do presidente da República com os governadores da Paraíba e do Maranhão quando irrompeu o quiproquó de Bolsonaro com o governador da Bahia, que, numa medida de represália, ausentou-se da entrega do aeroporto em Vitória da Conquista e determinou que a Polícia Militar do Estado também não comparecesse ao evento, o que fez com que a segurança do presidente da República passasse a ser feita por agentes da Polícia Federal recrutados às pressas para evitar incidentes.
Afirma-se, também, em Brasília, que governadores de Estados do Nordeste preparam-se para jogar duro na votação do projeto de reforma da Previdência em segundo turno, mobilizando suas bancadas para reagir à exclusão de Estados e municípios do texto-base encaminhado pelo Palácio do Planalto e que foi aprovado com relativa folga no primeiro turno. O receio é o de que a animosidade do presidente com governadores nordestinos provoque reações de protesto de deputados federais nordestinos contra o Palácio do Planalto e em defesa, teoricamente, dos seus Estados, não propriamente dos governadores, para não se desgastarem por ocasião dos embates eleitorais que estão programados para o próximo ano, quando das eleições para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Temem que venha a prosperar o sentimento de que o governo atual não tem maiores compromissos concretos com o Nordeste nem dará continuidade a programas e obras que tiveram deflagração nos governos petistas, a exemplo da transposição de águas do rio São Francisco.
Nonato Guedes