Nesta quadra em que o MDB paraibano prepara-se para reconduzir o senador José Maranhão ao seu comando, ofertando-lhe uma longevidade que vem desde 1998, é imperioso reconhecer que o grande aglutinador do MDB-PMDB no Estado foi o falecido senador Humberto Lucena, que por duas vezes presidiu o Congresso Nacional e que foi uma das figuras influentes em acontecimentos épicos e decisivos da agremiação que, no dizer do doutor Ulysses Guimarães, era como pão-de-ló na ditadura militar: crescia quando mais batiam nela. Diferentemente de Maranhão, que não deu passos significativos para o fortalecimento da legenda pelo contrário, foi nas suas mãos que o partido definhou, a ponto de ter hoje apenas um deputado estadual, Humberto atraía quadros de fora, remanescentes de agremiações diversas, para oxigenar o PMDB e conduzi-lo ao poder.
Foi assim com Antônio Mariz, recrutado para as fileiras do partido com direito a ser candidato ao governo em 1982, depois que dissentiu da antiga Arena, convertida em PDS. Mariz não logrou conquistar o Palácio da Redenção naquele ano e sofreu mesmo derrota acachapante para Wilson Braga, por diferença de 151 mil votos, mas é inegável que foi essencial para vitaminar o PMDB. E em 1994 acabou concretizando o sonho de se eleger governador, embora a saúde já debilitada o impedisse de levar à frente um programa reformista que empolgou parcelas categorizadas da sociedade. Foi pelas mãos de Humberto que outro dissidente remanescente da Arena-PDS, o ex-governador Tarcísio Burity, ingressou no PMDB em 86, com a condição, também, de ser candidato ao Palácio da Redenção. Burity propiciou ao PMDB o gáudio de, enfim, chegar ao poder estadual, colocando quase 300 mil votos de diferença sobre Marcondes Gadelha, ungido à última hora pelo esquema decaído, após a renúncia do empresário José Carlos da Silva Júnior, que se recusou a fazer o triste papel de trem-pagador de candidatos naquela campanha memorável.
Note-se que a ascensão de Humberto ao comando do PMDB da Paraíba deu-se, naturalmente, com a morte do senador Ruy Carneiro, que era a grande referência da legenda e que sacramentou o slogan Forte é o Povo, para reagir aos arreganhos de intimidação forjados pela Arena-PDS para celebrar sua superioridade e uma hegemonia que parecia eterna na conjuntura regional, não fosse o eleitorado consciente da necessidade da alternância do poder e da aposentadoria de velhos caciques que já não tinham muito a oferecer ao cenário, exceto lições de experiência, aí incluídas as derrotas que fazem parte dos currículos de muitos homens públicos. Já foi dito que os homens não fervem à mesma temperatura. Humberto e Maranhão tinham estilos diametralmente opostos de comando. Maranhão aparenta ser mais impositivo; Humberto era flexível até demais, de tal sorte que chegava a brigar com os fatos quando pipocavam divergências internas que ele se apressava em debelar. A intuição dizia-lhe que só à custa da argamassa da unidade o partido da resistência à ditadura militar e aos casuísmos políticos iria se agigantar e empalmar a Presidência da República.
Como colunista político, por diversas vezes, referi-me a esse papel de bombeiro interpretado pelo senador Humberto Lucena como ilustração de alguém que se fazia algodão entre cristais, pondo-se no meio do fragor dos embates como o conciliador, aquela eminência que desarma radicalizações e promove o aggionarmento, tendo em vista objetivos superiores, como a execução de programas doutrinários apresentados em forma de alternativa a modelos ultrapassados a uma sociedade em permanente mutação. Não se quer, com isto, dizer que Maranhão seja desagregador pelo contrário, ele também deu passos importantes para fortalecer o partido. Mas palmilhou os caminhos errados da estratégia política, de tal forma que está candidato a apagar, sozinho, as luzes do partido que voltou a se chamar MDB.
Por estar em fim de carreira, Maranhão não aparenta vigor para rejuvenescer o partido. Poderia, num gesto de renúncia, passar o bastão ao deputado estadual Raniery Paulino, o último dos moicanos do MDB na Assembleia Legislativa mas ninguém espera esse gesto da parte do ínclito senador. É como se o partido fosse propriedade privada de maranhão e, em sendo assim, quanto menos dividir o espólio, melhor. Só lembrando aos incautos: Maranhão fez-se respeitar como comandante de partido quando se impôs à blitzkrieg liderada pelos Cunha Lima para dominar a sigla, cuja estrutura no Estado era assaz cobiçada. Vitorioso em convenções internas, JM assenhoreou-se do comando mas com o tempo é líder do bloco do eu sozinho. Um quadro melancólico, mas, infelizmente, verdadeiro.
Nonato Guedes