Analistas habitualmente auscultados pela grande mídia sulista são unânimes em apontar o deputado Rodrigo Maia, do DEM-RJ, presidente da Câmara dos Deputados, como o homem mais poderoso da República nestes tempos bolsonarianos. A explicação está no fato de Maia praticamente pautar o Palácio do Planalto na negociação para condução de matérias de seu interesse direto, como o projeto da reforma da Previdência, que foi aprovado em primeiro turno, com relativa folga, não obstante tratar-se de matéria por demais controversa, inclusive, porque, à última hora, o texto-base acabou excluindo Estados e municípios, criando uma comoção generalizada da parte de governadores e prefeitos, o que está se refletindo, agora, na animosidade declarada entre pelo menos três gestores de Estados do Nordeste para com o Palácio do Planalto.
Filho de César Maia, que foi prefeito do Rio e gerou polêmica em virtude de algumas medidas e declarações esquisitas com que pontuou a sua passagem pela vida pública, fazendo-o parecer um ET no habitat político brasileiro, Rodrigo Maia agigantou-se, possivelmente, no processo de transição verificado na Câmara, de forma traumática, diante da cassação do mandato do presidente Eduardo Cunha e decretação de sua prisão. Foi confirmado no posto alcançando votação expressiva e teve papel moderado essencial no rito de passagem do governo de Michel Temer para o do presidente eleito Jair Bolsonaro. A projeção de Rodrigo Maia é realçada pela impressão de semi-parlamentarismo vigente no país, originado pela posição hegemônica que o Congresso tem assumido no trato de matérias que, em outras épocas, foram arbitradas sob a chancela exclusiva do Executivo.
Mas Rodrigo Maia é o que se diz agrega méritos indiscutíveis de talento político que o fazem talhado para a circunstância contemporânea. O exemplo mais ilustrativo das qualidades que tornam o deputado federal pelo Rio de Janeiro um político extremamente hábil é o trânsito que ele detém na faixa de esquerda, dentro e fora do Parlamento, em proporção infinitamente superior ao que o presidente Bolsonaro poderia sonhar vir a ter. Embora remanescente de caciquismo político com raízes impregnadas no Nordeste, Rodrigo Maia reciclou-se com uma rapidez impressionante ao ser alçado a postos de relevo na hierarquia do poder. Teve a acuidade necessária para deixar de quarentena posturas políticas pessoais para acostar-se a propostas e temas de interesse geral, superveniente, o que ampliou os seus espaços de visibilidade e, ao mesmo tempo, de interlocução com extratos sociais e políticos diversificados.
Ministros da própria confiança do presidente Jair Bolsonaro, quando indagados em off sobre os méritos da votação favorável, em primeiro turno, da reforma da Previdência na Câmara, não reconhecem ter havido, ali, uma supremacia do presidente Bolsonaro e do seu governo. Apontam o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, como o grande articulador e, por via de consequência, o protagonista maior do que à primeira vista parecia um parto doloroso, por já ter sido testado sem muito êxito até em governos do Partido dos Trabalhadores, como se deu com o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Rodrigo Maia demonstrou paciência chinesa para ouvir com atenção o contraditório nas discussões que permearam o texto-base final elaborado pelo deputado Samuel Moreira, do PSDB de São Paulo. E, posteriormente, fez a sua parte, em grande estilo, como presidente, imprimindo tramitação rápida e votação dentro das expectativas na área oficial.
Foi com um pouquinho de má vontade que o presidente Jair Bolsonaro reconheceu de público e agradeceu o empenho valioso do deputado Rodrigo Maia para viabilizar a aprovação do projeto de reforma da Previdência em primeiro turno. Bolsonaro, que tem se ocupado mais em brigar do que em governar, intentava contabilizar a aprovação da reforma previdenciária como o grande trunfo da sua gestão cambiante, que ainda não disse a que veio e que tem mergulhado em sucessivos recuos, proporcionais ao humor instável do próprio presidente e ao seu desconhecimento do que seja a máquina.
Há quem faça ilações de que o deputado Rodrigo Maia vai se credenciando a voos maiores no cenário político brasileiro e é evidente que não se descarta a hipótese de estar sendo forjada embrionariamente, uma virtual candidatura sua a presidente da República. Parece cedo, muito cedo, para especular-se acerca disso. Mas, se forem mantidas as condições de temperatura e pressão com que se move (ou não se move) o governo Bolsonaro, não será temerário apostar em Rodrigo como alternativa viável para 2022. A conferir!
Nonato Guedes