O governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, é nome que já se impõe na corrida à sucessão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) graças a um empurrão do próprio Bolsonaro que o chamou de pior governador de paraíba uma alusão, na verdade, ao Nordeste, região onde, dos nove Estados, sete são governados pela oposição, com um detalhe: os dois que estão fora do grupo (Renan Filho, do MDB, e Belivaldo Chagas, do PSD) não podem ser considerados aliados ou de partidos de base. O governador da Paraíba, João Azevêdo, do PSB, também fustigado pelo presidente como intragável num áudio que viralizou nas redes sociais, definiu de forma apropriada em declarações à revista Veja: Bolsonaro puxou (Flávio Dino) para o ringue. Se ele tiver essa intenção, essa disputa o coloca na condição de ser o oponente que o presidente elegeu. O capitão-presidente está há pouco mais de sete meses no governo e a eleição à sua sucessão ainda está prevista para 2022.
A distância do calendário eleitoral presidencial não impede que se trate já agora da sucessão de Bolsonaro no Brasil, os políticos costumam deflagrar uma campanha eleitoral atrás da outra, o que torna a política um moto contínuo. Dino enfrenta enormes dificuldades para melhorar em seu segundo mandato os péssimos indicadores econômicos e sociais do Maranhão, mas mesmo assim já se lançou ao ringue, com um argumento simplório: Qualquer jogador de futebol fica feliz quando é convocado para a seleção brasileira. O Palácio do Planalto é a Meca, o sonho de consumo dos políticos regionais, de qualquer Estado, incluindo a Paraíba, onde, após a morte do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, Ricardo Coutinho ganhou estímulos para ambicionar a cadeira de supremo magistrado da Nação.
A oposição a Bolsonaro está desarticulada, mas em suas franjas dois nomes tentam se viabilizar para uma disputa futura contra o atual gestor: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está preso na Polícia Federal em Curitiba há mais de um ano, e o ex-presidenciável Ciro Gomes, do PDT, uma espécie de Paulo Maluf às avessas, parecido com o político paulista na obstinação com que compete à presidência da República sempre que o cargo está em leilão. A desvantagem de Ciro é que ele não conseguiu, ainda, empolgar fatias do eleitorado a ponto de se cristalizar como alternativa viável ao privilegiado gabinete do Planalto. O pavio curto dificulta, em parte, os seus passos e sua estratégia. Ele é de xingar possíveis aliados que poderia atrair, se tivesse mais habilidade fez isto com o próprio Lula, já preso. O PT e Ciro estão juntos e focados, agora, em esvaziar eventuais espaços que Dino procure conquistar na faixa de oposição e de esquerda.
Segundo Veja confirma, há algum tempo Flávio Dino vem fazendo movimentos que dão ideia de suas ambições. Em junho, ele se reuniu a sós com o ex-presidente José Sarney, seu rival histórico no Maranhão. Também esteve recentemente com Fernando Henrique Cardoso e Lula, esse último o recebeu em uma visita na cadeia. Com o impulso dado por Bolsonaro, Dino deve ampliar ainda mais essa agenda para capitalizar o protagonismo na oposição. Habilidoso negociador político, ele foi eleito para um segundo mandato em uma coalizão que uniu o PCdoB e o PT a outros catorze partidos, entre eles, o DEM, o PRB, o PP e o PTB. O gestor comunista expende opiniões como a de que a corrupção política é uma causa justa, legítima, que deve concentrar as atenções de todas as lideranças, mas adiciona o comentário de que a maior corrupção latente na sociedade é a terrível desigualdade social, a pobreza.
Com argumentos assim, o governador do Maranhão procura camuflar suas limitações à frente da administração estadual, mas o ponto alto da sua tática é bater no governo Bolsonaro, a respeito do qual diz o seguinte: Tenho dificuldade de identificar pontos positivos, com exceção de questões isoladas, como a aprovação do décimo terceiro salário para os beneficiários do Bolsa Família. O conjunto da obra é muito ruim. Na hora de elevar os decibéis, ele ataca diretamente a figura de Jair Bolsonaro, a quem qualifica como projeto de ditador. De acordo com Dino, o presidente, o seu círculo mais próximo e a ideologia extremista são graves ameaças à democracia. Chega a assegurar que, em muitos sentidos, vive-se no Brasil uma conjuntura parecida com a da Itália nos anos 1920 e a da Alemanha nos anos 1930. É uma conjectura tida como apocalíptica em setores da própria esquerda por onde Flávio Dino transita, mas o estilo de Bolsonaro de tratorar adversários e tentar desqualificar entidades que representam a sociedade civil torna palatáveis algumas observações extremistas do pior dos governadores de paraíba, na concepção de Bolsonaro. Seja como for, Dino seguirá pavimentando o caminho rumo a Brasília. Bolsonaro me fez um grande favor ao resolver promover meu nome, confessa.
Nonato Guedes