A retórica agressiva do presidente Jair Bolsonaro (PSL) já atingiu artistas famosos contemplados com a Lei Rouanet, de Incentivo à Cultura, governadores como Flávio Dino, do PCdoB do Maranhão, e João Azevêdo, do PSB da Paraíba, presidentes de poderes como o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que comanda a Câmara Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-candidato petista a presidente Fernando Haddad, magistrados e jornalistas. Ex-ministros e antigos interlocutores de confiança do mandatário também não foram poupados de sua língua ferina. A briga mais recente do presidente, depois da que comprou com governadores de paraíba, deu-se com o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, em meio a insinuações de Bolsonaro de que seu pai não foi morto por agentes da repressão ligados à ditadura militar mas teria sido vítima, supostamente, de ex-companheiros de militância da esquerda, numa operação acerto de contas.
O publicitário paraibano Lucas Salles, da 9Ideia, que trabalhou na campanha de Bolsonaro, disse que, logo no começo dos contatos com ele, percebeu que o postulante não se enquadrava em nenhum padrão de mídia/imagem que as produtoras sempre têm quando vão executar algum projeto de marketing. Por mais que a gente projetasse alguma coisa, ele, de repente, fazia ou dizia algo que nos surpreendia, cita Lucas, confirmando que as reações eram sempre no sentido de provocar polêmica, alvejando adversários ou em circunstâncias com as quais o capitão reformado do Exército se incomodava. Nas reuniões de trabalho, porém, Bolsonaro não tinha nada disso. Às vezes parecia mais o pacificador. Nunca foi agressivo conosco, nem com nenhum colega de trabalho. Só que, quando saía das reuniões, parece que se envolvia com alguma coisa ou ouvia alguma provocação e já ia rebatendo, falando, narrou Lucas, em depoimento ao repórter Ademilson José, que publicou matéria no jornal A União sobre as brigas do presidente da República.
Lucas lembrou que nas vezes em que a maneira de ser de Bolsonaro chegou a ser tratada ou discutida em alguma reunião, o candidato chamava de ato reflexo. E adiantou: Ouvi isso dele algumas vezes. Houve um momento em que deixamos de tentar mudar o seu jeito. E não muda mesmo. Está aí, ele, do mesmo jeito. Não se pode prever o que vai dar, mas o fato é que continua, porque, na aparência, o estilo tem dado certo para ele, comenta Lucas Salles, ressaltando que a sua agência não tem contrato com a administração do ex-candidato. O nosso trabalho se limitou ao período da campanha; depois que o governo se instalou, não tivemos mais nenhum vínculo, finalizou. Ao se dirigir a familiares de desaparecidos políticos na ditadura militar, Bolsonaro disse em seu gabinete parlamentar em 2009: Desaparecidos do Araguaia? Quem procura osso é cachorro.
A irreverência de Bolsonaro advém do quartel? Alguns colegas de farda avaliam que sim, mas a tese não tem consenso junto à maioria, para quem o atual presidente da República sofreu influências diversas em sua trajetória, como a do então festejado guru Olavo de Carvalho, escritor e astrólogo, radicado na Virgínia, Estados Unidos, detestado pela esquerda e afagado por Bolsonaro pai e filhos. Quando deputado federal, Bolsonaro foi recordista em representações no Conselho de Ética da Câmara devido a ataques de baixo calão por ele proferidos ou até mesmo agressões verbais diretas contra, por exemplo, a deputada federal petista pelo Rio Grande do Sul, Maria do Rosário. Com quatro processos, Bolsonaro foi o único que alcançou esse número desde que o Conselho foi instalado em 2001. O filho Eduardo Bolsonaro, em seu primeiro mandato, foi alvo de outros dois. A lista de acusações contra ele também foi extensa na Corregedoria da Câmara Federal. Mas, a despeito da repercussão negativa desses fatos para a imagem de Bolsonaro não há garantia de que ele venha abrir mão do estilo.