Numa entrevista a Leonardo Sakamoto, de UOL, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) revelou que não cogita disputar mais cargos eletivos, quer no próximo ano, quer em 2020, muito menos planeja uma volta ao Palácio do Planalto. Eu e o Lula (Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente, que está preso na Polícia Federal em Curitiba) estamos num ponto em que devemos passar o bastão, salientou a ex-mandatária. Dilma Rousseff foi eleita em 2010 com o apoio decisivo de Lula, então no auge da sua liderança política, que a apresentou como “Mãe do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Em 2014, Dilma foi reeleita, também com o apoio de Lula, mas em 2016 sofreu impeachment decretado pela Câmara Federal sob acusação de praticar pedaladas fiscais, segundo comprovação do Tribunal de Contas da União.
Em 2018, Dilma foi candidata a uma vaga ao Senado pelo PT de Minas Gerais e começou a campanha liderando pesquisas de intenção de voto, mas, na reta final, ela perdeu a dianteira e a corrida. Ultimamente tem alternado palestras sobre a conjuntura política nacional em centros importantes do Brasil e do exterior, geralmente a convite de instituições e organismos comprometidos com a democracia. Nas suas explanações, Dilma tenta explicar como golpe parlamentar o processo de impeachment a que foi submetida. Também comenta sobre a prisão de Lula, avaliando que é emblemática de uma orquestração para afastá-lo de cena, diante do prestígio popular de que desfruta. O exemplo concreto, de acordo com a ex-presidente da República, foi a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de negar registro à candidatura de Lula a presidente, alegando, exatamente, a impossibilidade dele concorrer pelo fato de estar cumprindo pena de prisão, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O candidato do PT em 2018 foi Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, que ainda alcançou cerca de 45 milhões de votos dando combate a Jair Bolsonaro, o vitorioso. Dilma foi preterida na corrida pelo Planalto por facções do próprio Partido dos Trabalhadores, que nunca a absorveram. A ex-presidente sustenta uma narrativa crítica em relação ao governo de Jair Bolsonaro, que, a seu ver, tem características neoliberais e neofascistas, associado a representantes do Centrão e da direita mais civilizada, que, a seu ver, tentaram tutetá-lo, sem êxito, diante dos compromissos pessoais do ex-capitão das Forças Armadas e do seu estilo personalista de governar. Para Dilma, o compromisso neofascista não é facilmente mitigável, mas a ex-presidente defende que seja mantida a postura de resistência das lideranças políticas de oposição e de lideranças representativas da sociedade civil contra práticas de retrocesso que estariam sendo colocadas em prática pela gestão de Bolsonaro.
– Precisamos ter a coragem de continuar resistindo exortou Dilma Rousseff.