Uma ala majoritária do Partido dos Trabalhadores, a nível nacional, segundo informação da Folha de São Paulo, passou a defender o argumento de que os governadores do Nordeste, independente de filiação partidária no campo da esquerda, sejam reconhecidos como porta-vozes da oposição institucional ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e tenham todo o apoio das lideranças petistas nas bandeiras que empalmarem na defesa dos interesses dos seus Estados. A estratégia ganhou força com o confronto constante do presidente da República com os gestores nordestinos, especialmente com os da Paraíba, João Azevêdo, do PSB, e do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, mencionados nominalmente por Bolsonaro em críticas a governantes de paraíba, como ele se referiu, pela primeira vez, à região.
Na opinião de analistas políticos na Paraíba, a estratégia do PT nacional contra Bolsonaro contribuirá para colocar em evidência no debate político o ex-governador Ricardo Coutinho, presidente da Fundação João Mangabeira, organismo de estudos da conjuntura nacional do Partido Socialista, pela liberdade que Ricardo tem tido de fazer intervenções sobre o cenário vigente, criticando de forma veemente políticas públicas e programas tidos como conservadores que sinalizariam retrocesso diante dos avanços alcançados pela sociedade nos anos que antecederam à Era Bolsonaro. A projeção de Ricardo adviria, ainda, do fato de ser ele remanescente, na sua trajetória política, dos quadros do PT, com o qual rompeu quando sentiu falta de espaço para ser candidato à prefeitura de João Pessoa em 2004, tendo ingressado no PSB, pelo qual saiu vitorioso. Nas hostes socialistas da Paraíba, alega-se que Azevêdo, embora tenha reagido com firmeza a provocações do presidente Bolsonaro, deve ser poupado da ofensiva política propriamente dita para não vir a ser acusado de prejudicar interesses da Paraíba por suposta hostilidade ou intransigência contra o governo do capitão reformado.
Ricardo Coutinho, por outro lado, tem canais de interlocução na ambiência nacional por ter assumido, no Nordeste, quando governador, posição declarada contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), tendo trazido a ex-mandatária a João Pessoa para uma palestra a pretexto de denunciar o que chamou de golpe contra as instituições democráticas brasileiras. Ricardo, ultimamente, tem participado de eventos políticos, em Brasília e em São Paulo, detendo espaços privilegiados em publicações como a revista Carta Capital, do jornalista Mino Carta, ex-editor da revista Veja em diferentes fóruns de esquerda que repensam a realidade brasileira a partir da ascensão de Bolsonaro, com a derrota da candidatura do ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Coutinho, que não escondeu postura crítica ao presidente Michel Temer (MDB) quando este foi efetivado na titularidade com o impeachment de Dilma Rousseff, chegou a patrocinar a vinda à Paraíba do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ex-presidente afastada para testemunharem, em evento informal, a recepção das águas derivadas do projeto de transposição do rio São Francisco, um dos grandes feitos de Lula nesta região. Por ocasião do episódio da prisão do ex-presidente Lula, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Coutinho solidarizou-se por várias vezes com o petista. Acabou conseguindo visitá-lo em Curitiba, manifestando pessoalmente ao ex-presidente seu repúdio ao que considerou um ato de injustiça contra ele e se dispondo a engrossar o agrupamento de oposição que insiste na denúncia do golpe político-institucional.
Atualmente o ex-governador paraibano tem tido o seu nome cogitado pelos próprios correligionários do PSB para disputar a prefeitura de João Pessoa nas eleições do próximo ano. A deputada estadual Cida Ramos, que foi sua secretária de Desenvolvimento Humano e que se candidatou à prefeitura da Capital, sem êxito, afirmou domingo em entrevista à TV Tambaú que insistirá até quando isto for possível com Ricardo para que ele aceite a candidatura, como reflexo do muito que empreendeu quando foi prefeito duas vezes, na Capital, e governador do Estado também por duas vezes. Ricardo não tem assumido a postulação, lembrando que há outros nomes qualificados nas hostes socialistas e no campo das oposições ao governo Bolsonaro e a grupos políticos adversários do Estado. Quanto ao PT, participa do governo João Azevêdo com a ocupação de uma secretaria pelo ex-deputado federal Luiz Couto, que foi derrotado ao tentar eleger-se a uma vaga de senador em 2018. Os petistas ainda sonham com maiores espaços na gestão Azevêdo, aprofundando as ligações com o PSB.
Nonato Guedes