O juiz corregedor Paulo Eduardo de Almeida Sarci, do Tribunal de Justiça de São Paulo, atendeu a uma decisão da juíza Carolina Lebbos, da Décima Segunda Vara Federal de Curitiba, para a transferência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da cela especial da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está recolhido desde abril de 2018, para a Penitenciária II de Tremembé, interior de São Paulo, onde estão presos famosos acusados de crimes de homicídio como Alexandre Nardoni e Suzana von Richtofen, esta, condenada por participação na trama que culminou com o assassinato dos pais. A remoção de Lula da carceragem da PF para o presídio de Tremembé preocupa a defesa do ex-presidente, que pediu esclarecimentos maiores sobre as condições para a segurança do apenado. Na definição de adversários de Lula, atualmente ele está recolhido quase a um spa, alusão à cela especial que ocupa em Curitiba e onde recebe visitas até de personalidades estrangeiras, além de ficar isolado de presos comuns.
A juíza Carolina Lebbos, que assumiu como substituta de Sérgio Moro quando este pediu demissão para assumir o ministério da Justiça, alegou que o recolhimento de Lula à sede da PF em Curitiba provocou mudança na rotina do presídio desde o ano passado, em virtude das constantes visitas de advogados, políticos, artistas e comitivas que representam organismos e entidades situadas no exterior. Em Tremembé, ele poderá ter contato com outros presos durante banhos de sol mas sua privacidade ficará parcialmente resguardada. Além de advogados do ex-presidente, dirigentes nacionais do PT externaram preocupação com o tratamento que passará a ser dispensado a Lula em data ainda não anunciada pela Justiça, quando da sua remoção. Lula passou a ocupar em Curitiba um espaço de 15 metros quadrados, isolado e protegido da curiosidade alheia. Ele começou a cumprir pena no dia 7 de abril de 2018, indiciado em processos nos quais é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Saiu de lá para prestar depoimento e, em outra ocasião, para ir ao enterro de um neto em São Paulo, onde esteve escoltado por forte esquema de segurança.
Na edição de nove de maio de 2018, a revista Veja assim narrou a rotina do presidiário Lula em Curitiba: O elevador para no terceiro andar do prédio da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Quando se sai dele, à esquerda, um agente fardado, com uma espingarda calibre 12 em punho, impede o acesso à escada de incêndio. Subindo-se as escadas, em direção ao quarto andar, há duas portas corta-fogo de ferro. Cada uma delas exibe um alerta impresso em papel sulfite branco: o ambiente é monitorado por câmeras. O acesso é permitido somente a pessoas autorizadas. Atravessando-se a última porta, logo à direita, percebe-se que ali existe algo diferente. Uma fita azul, semelhante às usadas nos aeroportos para formar filas, dificulta o avanço de quem aparece. Ultrapassando-se a barreira, dois agentes fardados com uma pistola, do Grupo de Pronta Intervenção, a tropa de elite da PF, fazem uma espécie de barricada ao lado de uma porta de madeira. Cruzando-se essa porta tem-se acesso a uma sala. É nesse espaço, de 15 metros quadrados, isolado e protegido da curiosidade alheia, que se encontra o cliente, apelido dado pelos policiais ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde 7 de abril.
No dia 27 de abril, Veja teve acesso com exclusividade ao local onde o petista está detido e reconstituiu o cotidiano do seu primeiro mês na prisão uma rotina diferente da dos outros 22 presos na carceragem da PF em Curitiba. O ex-presidente não tem hora para acordar ou dormir, não tem hora para o banho de sol, pode receber os advogados quando desejar, as visitas não passam pela revista íntima e a cela, confortável se comparada às demais, não fica trancada. Normalmente a porta permanece apenas fechada. Mesmo sem horários rígidos o dia de Lula na prisão começa por volta das 7 horas e segue uma rotina especial. Após pular da cama, Lula tem o hábito de ligar a televisão para acompanhar o noticiário da manhã. O desjejum é frugal e o mesmo dos demais presos: café preto e pão com manteiga. Em deferência ao prisioneiro, o encarregado de servir a refeição bate na porta antes de abri-la. Entra, coloca a marmita sobre a mesa redonda e aplica uma dose de insulina no ex-presidente, necessária para o tratamento de diabetes. Depois do café matinal, Lula, que também sofre de hipertensão, costuma se exercitar, descreveu Veja na reportagem exclusiva que publicou. A sala transformada em cela para abrigar Lula era usada antes como dormitório por agentes que estavam em missão em Curitiba. É um espaço espartano, sem luxos, mas com pequenos confortos exclusivos para o ex-presidente, a exemplo de mesa redonda com livros empilhados, folhas de anotações, caneta, alguns alimentos e TV de plasma que transmite apenas os canais abertos, além de um armário de madeira para guarda das roupas do ex-presidente. Atrás do armário, uma divisória separa o quarto-sala do banheiro, onde há um boxe com chuveiro elétrico, uma pia e um vaso sanitário. Vou sair daqui mais rápido que as pessoas imaginam, declarou Lula, numa das confidências feitas dentro da cela. A profecia está prestes a se confirmar, com sua transferência para o presídio de Tremembé.
Nonato Guedes, com sites e agências