Na próxima terça-feira, dia 13, completa cinco anos a morte, em acidente aéreo, em São Paulo, do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tido como uma das raras lideranças emergentes no cenário tão combalido da política brasileira. Na noite anterior, Campos havia sido entrevistado na bancada do Jornal Nacional, na Rede Globo, na condição de pré-candidato à presidência da República. Neto de Miguel Arraes, mito político de Pernambuco, que foi deposto do Palácio do Campo das Princesas em 1964 pelos executores do golpe militar que submeteu o país à longa noite das ttrevas, Eduardo figurava na terceira colocação nas intenções de voto, segundo pesquisas eleitorais, mas tinha uma convicção muito forte de que chegaria lá.
Era um candidato admirado e respeitado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e daria combate, na disputa de que não pôde participar, à ex-presidente Dilma Rousseff, que derrotou Aécio Neves (PSDB), reelegeu-se ao Planalto e dois anos depois foi apeada no bojo de um processo de impeachment, baseado, entre outros argumentos, em pedaladas fiscais comprovadas pelo Tribunal de Contas da União. Quando algum aliado lamentava a falta de avanço na preferência eleitoral, Eduardo lembrava que isso não o abalava, pois, em 2006, quando disputou o governo de Pernambuco pela primeira vez, também começara praticamente derrotado pelos pessimistas. Sua passagem pelo governo de Pernambuco, entre 2007 e 2014, rendeu-lhe um dos maiores índices de aprovação já vistos.
Jovem, carismático, articulado nas ideias e nas estratégias, Eduardo era muito querido pelos eleitores do seu Estado e dispunha de largos espaços para crescer nacionalmente. Foi capaz de gestos de grandeza, um deles o de acolher como candidata a vice na sua chapa a ex-ministra Marina Silva, que não havia conseguido registrar na Justiça Eleitoral o seu novo partido, Rede Sustentabilidade, em condições de habilitar-se ao páreo presidencial. Marina havia telefonado a Eduardo, propondo entrarem juntos na disputa pela Presidência. A perspectiva de candidatura de Eduardo preocupou seriamente tanto Lula quanto o PT, que tentaram demover Eduardo do projeto de se lançar candidato. Os jornalistas Chico de Gois e Simone Iglesias, que traçaram em livro-relâmpago o perfil de Eduardo, informam que Lula acreditava poder convencer Campos a não entrar na corrida presidencial. No princípio, encheu-lhe de afagos publicamente. Chamou-o para conversar em São Paulo, explicando que ele havia se tornado uma liderança nacional, mas tentando fazê-lo compreender que ele ainda era jovem e poderia esperar pela próxima eleição.
Obstinado, intuitivamente, em ser candidato, por pressentir que as circunstâncias o empurravam a tanto, Eduardo Campos, em 18 de setembro de 2013, fez uma jogada que selou sua intenção: o PSB devolveu ao governo federal os cargos que ocupava no governo do PT como o Ministério da Integração Nacional, a Secretaria dos Portos e uma diretoria na Chesf. O partido, presidido por Campos, manifestou publicamente que teria candidato a presidente, embora deixasse um suspense no ar, remetendo para 2014 a discussão propriamente dita a esse respeito. Em 2012, Eduardo, ao contemplar o crescimento da legenda em eleições de prefeito, avisou em entrevista: Em 2014, o PSB vai estar no jogo. Seu nome começou a aparecer com frequência no noticiário como provável candidato, na tentativa de quebrar a polarização entre PT e PSDB. O PT percebeu que seu aliado estava querendo andar com as próprias pernas. Eduardo emitia sinais contraditórios. Declarava amor a Lula e fidelidade a Dilma mas agia para que seu nome ganhasse mais holofotes, até que chegou o momento em que ou a corda rompia ou ele a utilizava para subir. Optou, então, por correr o risco.
A entrevista de Eduardo Campos no Jornal Nacional foi o grande divisor de águas e teve o condão de oficializar a sua pré-candidatura a presidente da República. Ele aproveitou bem o generoso espaço que lhe foi concedido, expondo suas ideias com clareza e simplicidade, avançando com conhecimento de causa pela discussão dos desafios nacionais, propondo alternativas no campo econômico e social. Foi uma consagração, segundo testemunhou ao fim da entrevista ao ser bombardeado por inúmeros telefonemas de aplausos e de estímulo para que levasse a candidatura à frente. Eduardo passou a ser referenciado em segmentos que antes eram cativos do PT ou de candidatos alternativos como Ciro Gomes, hoje no PDT. Eduardo encerrou sua fala no Jornal Nacional com duas frases que seriam o mote da campanha presidencial e que refletiam o que muito brasileiro pensa: Não vamos desistir do Brasil e O Brasil tem jeito.
A morte precoce do jovem candidato a presidente da República sem paralelo na história política do país mudou o enredo e privou o Brasil da chance de ter um governante capaz de devolver o otimismo a uma sociedade traumatizada por tantos desencontros e desacertos.
Nonato Guedes