Governadores de Estados do Nordeste, que se consideram abandonados pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, como Flávio Dino, do Maranhão, filiado ao PCdoB, estão articulando um roteiro pela Europa nos próximos meses para tentar firmar parcerias e levantar investimentos para os nove Estados que comandam. A comitiva passará pela Itália, França, Alemanha e Espanha. Os governadores, todos de oposição, formaram o chamado Consórcio Nordeste e acusaram o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, de orientar seus funcionários a não liberar empréstimos para Estados e municípios da região.
Essa versão é contestada por Guimarães, que afirma que não existe nenhum direcionamento e que o banco é de todos. A ideia de criação do Consórcio Nordeste, consolidada em reuniões do Fórum de Governadores, foi criticada abertamente pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que a considerou demagógica e reiterou que não há preconceito nem discriminação por parte do governo federal contra qualquer Estado. O presidente comprou briga com os gestores nordestinos durante entrevista a correspondentes estrangeiros, em que deixou vazar inconfidência contra eles durante conversa com o ministro OnyxLorenzoni, da Casa Civil da Presidência da República. Insinuou que os governadores de paraíba cobram investimentos mas não aceitam dividir publicamente a parceria com o Palácio do Planalto e omitem, nos seus Estados, a contrapartida do governo federal em alguns empreendimentos de interesse público.
No desabafo, Bolsonaro disse que o governador do Maranhão é o pior de todos e qualificou o governador da Paraíba, João Azevêdo, do PSB, como intragável. Posteriormente, em outras intervenções públicas, feitas, inclusive, na Bahia, o presidente da República esforçou-se para retificar suas afirmações, garantindo que houve distorção de contexto das palavras proferidas e que em nenhum momento acenou com a negativa de recursos e obras para Estados nordestinos. Em represália, os governadores nordestinos têm elevado o tom contra o governo federal e a figura do presidente, enquanto mobilizam-se em busca de alternativas para sobreviver a uma possível retaliação formal do Planalto. O governador Flávio Dino, do Maranhão, é tido como pretendente, em potencial, à disputa à Presidência da República em 2022, embora não assuma essa condição. Seu colega da Paraíba, João Azevêdo, porém, admitiu que o tom adotado por Bolsonaro, citando Dino nominalmente, projetou a figura do governador maranhense e fortalece o projeto de uma suposta candidatura dele à sucessão de Bolsonaro.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, do DEM-RJ, solidarizou-se com os governadores do Nordeste, considerando injustificáveis eventuais ataques do presidente da República, lembrando que o Brasil tem um pacto federativo, que não discrimina Estados ou municípios e que a União não pode ignorar esse princípio. Os governadores nordestinos avaliam que os ataques do presidente Bolsonaro contribuíram para reforçar a unidade entre eles no encaminhamento de pleitos comuns. E insistem em dizer que o Consórcio Nordeste está mais ativo do que nunca, como alternativa às ameaças de retaliação partidas do governo federal.
Nonato Guedes, com agências