O Partido Socialista Brasileiro na Paraíba enfrenta sinais de divisão com a contestação, por uma ala, da permanência de Edvaldo Rosas na presidência estadual da legenda e sua atuação cumulativa como secretário-Chefe de Gabinete do governador João Azevêdo. As deputadas Estelizabel Bezerra e Cida Ramos, ligadas politicamente ao ex-governador Ricardo Coutinho e defensoras da candidatura deste à prefeitura de João Pessoa no próximo ano, alegam que a acumulação de funções por Rosas é incompatível e que isto acabará prejudicando o fortalecimento da legenda na sua estruturação em todos os municípios para as eleições municipais de 2020.
Na prática, tanto Cida quanto Estelizabel tentam pressionar pela renúncia de Rosas à presidência do PSB, abrindo espaço para a eleição de uma comissão provisória que teria no comando o ex-governador Ricardo Coutinho. Num movimento mais radical, segundo se apurou, examina-se a possibilidade de renúncia coletiva de dirigentes de diretórios municipais do PSB, o que obrigaria a cúpula a promover novas eleições, dificultando-se o espaço de manobra de Edvaldo Rosas para comandar o partido e expedir coordenadas para o pleito municipal do próximo ano, especialmente em João Pessoa. Rosas é tido como pessoa de confiança do governador João Azevêdo, com quem se alinharia na hipótese de uma divergência entre o atual gestor e o antecessor. Em tese, João e Ricardo negam qualquer desentendimento, mas os rumores são insistentes desde os episódios envolvendo exoneração de secretários remanescentes da gestão passada e que foram mencionados na Operação Calvário, que apurou irregularidades na pactuação da Saúde em hospitais públicos com organizações sociais a exemplo da Cruz Vermelha, cujo contrato com o governo da Paraíba foi rescindido já este ano por Azevêdo.
O ex-governador Ricardo Coutinho, que optou por não se candidatar a uma vaga de senador ou a qualquer outro mandato eletivo em 2018, preferindo permanecer no exercício do mandato até o final a pretexto de assegurar a manutenção do projeto socialista de governo iniciado por ele em 2010, ficou sem espaços influentes na legenda socialista no Estado ao deixar o Palácio da Redenção. Ele preside a Fundação João Mangabeira, que é um órgão de estudos do partido a nível nacional e que não tem ingerência em decisões partidárias relacionadas com definição de candidaturas, cabendo-lhe apenas promover reflexões, palestras e debates sobre a conjuntura política nacional e a respeito das estratégias de atuação do PSB quanto a temas como a reforma da Previdência. Embora ressalte que não impõe postulação à prefeitura de João Pessoa, até por já tê-la ocupado por duas vezes, Ricardo é o nome preferido entre socialistas para concorrer à sucessão de Luciano Cartaxo. A deputada Cida Ramos chegou a dizer que iria se empenhar para convencer o ex-governador de que ele é a melhor opção para levar o PSB a retomar o projeto político e de gestão que teria sido interrompido por Cartaxo, um ex-petista que já passeou pelo PSD e atualmente está no comando do Partido Verde no Estado, sem ligação de apoio ao governo de João Azevêdo.
De acordo com versões chegadas ao conhecimento da reportagem, a ameaça de eclosão de um impasse no PSB paraibano tendo como pano de fundo a candidatura a prefeito de João Pessoa no próximo ano já chegou ao conhecimento da direção nacional socialista, com o informe de que Ricardo Coutinho sacrificou-se pelo partido e teve papel decisivo para a vitória de João Azevêdo ao governo no primeiro turno, além de ter influenciado para a eleição de uma bancada numerosa na Assembleia Legislativa e a vitória de um deputado federal, Gervásio Maia, que age em sintonia com os preceitos ditados por Ricardo Coutinho, tendo se posicionado abertamente contra a reforma da Previdência. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, que tem atuação em Pernambuco e era ligado ao ex-governador Eduardo Campos cuja morte completou cinco anos no último dia 13 de agosto manifestou a expectativa pessoal de que haja um consenso entre as forças políticas do PSB na Paraíba sem a necessidade de interferência da cúpula nacional.
Nonato Guedes