Até líderes políticos que fazem oposição ao governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), qualificam como surpreendentes, ou seja, firmes e afirmativas, as atitudes de independência que ele tem tomado em relação ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), avaliando que o socialista paraibano não tem se mostrado intransigente no diálogo com o Planalto, assumindo apenas uma posição legítima de auto-defesa diante de suspeitas de retaliação por parte do Poder Central. Azevêdo tem deixado claro suas divergências com atos e medidas do governo federal e considera que a Paraíba não está sendo correspondida na proporção do dever de casa que tem procurado fazer em termos de manutenção do equilíbrio fiscal e da quitação de compromissos com a própria União.
A postura corajosa de João Azevêdo, em algumas áreas que lhe são próximas, tem sido comparada a gestos que entraram para a história da Paraíba, a exemplo do Nego do presidente do Estado, João Pessoa, que foi assassinado no Recife em 1930, ou da autenticidade de João Agripino, que governou até o ano de 1971 e, embora tivesse apoiado o movimento militar de 1964, por entender que a democracia estava sob risco, rebelou-se contra medidas autoritárias dos mandatários do ciclo dos generais e negou-se a cumprir o decreto proibindo o jogo do bicho no território paraibano. Agripino entrou em confronto direto com comandantes do IV Exército, no Recife, ou da Guarnição Federal em João Pessoa e procurou abrir canais democráticos com setores da própria Igreja, que passou a contestar o chamado golpe militar. Outros governadores tiveram porte de altivez, como Tarcísio Burity, que embora escolhido por via indireta pela primeira vez pregou a convocação de uma Assembleia Constituinte e a realização de eleições diretas e, mais recentemente, Ricardo Coutinho, do PSB, que denunciou como golpe o impeachment de Dilma Rousseff, do PT, e não economizou críticas ao presidente Michel Temer (MDB) investido em razão do afastamento da mandatária petista. Ricardo também promoveu a vinda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao cariri paraibano para a cerimônia informal da chegada das águas da transposição do rio São Francisco e, num discurso perante Temer, não regateou elogios a Lula por ter encampado a bandeira da interligação de bacias.
Azevêdo, num primeiro momento, surpreendeu com sua postura independente, pelo fato de ter sido um neófito político na campanha em que disputou o governo em 2018 e venceu no primeiro turno, batendo Lucélio Cartaxo (PV), apoiado por lideranças oposicionistas, e José Maranhão (MDB), que governou o Estado em três oportunidades. Embora com experiência administrativa acumulada, quer como secretário de pastas importantes na prefeitura de João Pessoa, quer como secretário de pastas estratégicas no governo do Estado, João Azevêdo não havia disputado até então qualquer mandato eletivo, apesar de cogitações feitas para ser candidato à prefeitura da Capital. Segundo analistas políticos, ele demonstrou jogo de cintura e habilidade em pouco tempo, já que está há apenas oito meses à frente do Executivo paraibano.
Uma das atitudes consideradas marcantes da parte de Azevêdo foi a exoneração de secretários remanescentes da administração do antecessor Ricardo Coutinho, mencionados na Operação Calvário, instituída pelo Gaeco e Ministério Público e que apurou irregularidades na gestão pactuada da Saúde Pública com Organizações Sociais que haviam sido credenciadas na gestão anterior. Azevêdo, além de exonerar secretários, rompeu o contrato com a Cruz Vermelha e fez licitação que credenciou outra organização social para gerir hospitais da rede pública. Além disso, o governo do Estado incluiu cláusulas que penalizam as OS em casos de irregularidades nos contratos celebrados. Essas medidas foram tomadas sem que João Azevêdo rompesse politicamente com Ricardo Coutinho pelo contrário, tem dito que o apoiará incondicionalmente a prefeito de João Pessoa no próximo ano se ele aceitar concorrer.
O governador, ao mesmo tempo, tem surpreendido na relação com a Assembleia Legislativa, inclusive, com deputados que são teoricamente da base de sustentação oficial e que já divergiram de iniciativas do Executivo encaminhadas ao plenário da Casa. A reação de Azevêdo, nesses casos, tem sido a de procurar esgotar o entendimento com parlamentares, de forma transparente, mostrando o que o Estado tem condições de fazer e o que é impraticável em termos de execução. Mas é no capítulo da relação independente com o presidente Jair Bolsonaro que Azevêdo tem sido mencionado de forma positiva. O conceito que vai se formando em torno dele, nesse caso, é o de que não se curva ao Planalto quando se trata de defender os interesses do Estado, mas age, em paralelo, para não prejudicar o Estado por causa da divergência com o governo federal. Os observadores acreditam que esse equilíbrio, até agora, tem sido sustentado por João Azevêdo.
Nonato Guedes