Em 1987, o paraibano Antônio Galdino da Silva Neto, que tinha entre 19 e 20 anos, decidiu seguir os passos do irmão mais velho e trabalhar na PM (Polícia Militar) do estado. Durante seus cinco anos de corporação, diz ter sido um agente linha dura, promovendo, inclusive, tortura física e psicológica contra suspeitos.
A carreira na corporação, no entanto, acabou quando ele trocou o papel de policial pelo de autor de um crime.
Durante uma briga com a mulher, em 1991, Silva Neto decidiu amedrontá-la com a arma. Apontou o revólver contra o rosto dela que, segundo ele, disparou acidentalmente. O tiro atingiu o rosto da mulher, que morreu na hora.
Ele se entregou no batalhão de polícia. Depois de 39 dias, foi expulso da corporação.
Ali teve início sua saga dentro do sistema penitenciário paraibano, onde entrou como detento, cumpriu sua condenação e, anos depois, retornou como diretor de uma unidade.
No primeiro mês, Silva Neto ficou detido no quartel da PM. Quando foi expulso, foi levado para o presídio da cidade de Princesa Isabel, no sertão paraibano. Foi condenado a 15 anos e oito meses de prisão. Depois da condenação, foi para um presídio maior, na cidade de Campina Grande, a 100 km de João Pessoa.
“Todos os dias, quando eu acordava, achava que aquele dia era meu último dia”, disse.
Ao todo, Silva Neto ficou 5 anos e 21 dias preso. Depois, teve progressão de pena para o regime semiaberto e recebeu indulto natalino do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Assim que foi para o semiaberto, o então deputado estadual Pedro Medeiros, atendendo a um pedido de sua mãe, com quem tinha amizade, o convidou para trabalhar como segurança na Assembleia Legislativa.
“Lá, virei amigo de vários deputados. Entre eles, Ricardo Coutinho, que foi governador da Paraíba durante oito anos (de 2011 até 2018). Entre uma sessão e outra, a gente conversava. Quando ele ganhou a eleição para governador, em 2011, o presidente da Assembleia não se batia com Ricardo e me exonerou porque sabia que eu o defendia. Ricardo, então, me chamou pra ser diretor do presídio de Sapé”, relembrou.
Ele ficou como diretor da unidade até 2015. E diz que pôde fazer o que reivindicava como ativista de direitos humanos.
Silva Neto afirma ter entrado nas celas. “Falei: ‘vocês atiram tudo para fora da cela assim que eu sair daqui: arma, facão, celular e droga. Amanhã, eu vou fazer uma vistoria grande aqui e quem tiver com coisa ilícita vai para um presídio pior’. Atiraram muita coisa. As duas facções locais: Okaida e Estados Unidos conviviam normalmente lá dentro, porque aquilo que eles reivindicavam eles tinham: respeito com os direitos humanos e individuais deles”, complementou.
Atualmente, ele integra uma ONG que tenta ajudar ex-presidiários a se adaptarem à vida fora das grades em todo o país, chamada Associação Brasileira de Ressocialização, além de ser empresário e contar sua vida em palestras.
Luís Adorno
Do UOL, em João Pessoa