No domingo passado, durante um jogo do Botafogo em João Pessoa, o governador João Azevêdo e o ex-governador Ricardo Coutinho não se cumprimentaram e ocuparam lugares distantes, sinalizando o distanciamento motivado pela dissolução do diretório estadual do PSB por parte da Executiva nacional, com a destituição do secretário de Estado de Governo Edvaldo Rosas da presidência, abrindo-se a perspectiva para escolha de direção provisória. Ontem, falando a jornalistas antes de cerimônia no Palácio da Redenção para o lançamento do Censo 2020 em conjunto com o IBGE, João Azevêdo deu um ultimatum à cúpula nacional socialista, colocando nas suas mãos a decisão sobre sua permanência ou não no partido.
– Cabe ao PSB decidir se quer ou não o governador nas suas fileiras enfatizou Azevêdo, enquanto Edvaldo Rosas salientou que há uma divisão latente na agremiação e que não vai disputar a direção do partido a qualquer custo. Não farei cavalo de batalha: se querem dissolver o diretório sem qualquer justificativa e num processo intervencionista, fiquem com o partido, sabendo que pegarão uma legenda estruturada em mais de 200 municípios. Rosas reiterou que não recorrerá do ato da direção nacional que dissolveu o diretório, de forma inexplicável e surpreendente. Da mesma forma, disse que em nenhum momento foi procurado por qualquer dirigente ou membro do partido com proposta para que o ex-governador Ricardo Coutinho assuma a presidência do PSB antes do fim do mandato do diretório destituído, que estava previsto para novembro de 2020.
Podem ficar com o partido, desdenhou Edvaldo Rosas, sem esconder o seu desconforto com o processo verificado nas hostes socialistas. João Azevêdo não foi menos incisivo. Ao criticar a forma como foi feita a dissolução do diretório paraibano pela direção nacional, disse: Eu não concordo com essa intervenção no partido. Eu não concordo com o presidente (Carlos Siqueira, da executiva nacional), ligar para dizer que recebeu uma lista de pessoas que teriam pedido a dissolução do diretório e, em seguida, me chamar para uma reunião. Acho que não cabe mais reunião; a decisão já está tomada. Siqueira havia proposto uma reunião conciliatória em Brasília, hoje, entre Azevêdo e Ricardo Coutinho. O governador anunciou que estará em Brasília mas para cumprir agenda essencialmente administrativa, conforme programado antecipadamente.
A deputada estadual Cida Ramos, que é ligada a Ricardo Coutinho, aposta que o partido não vai retirar o governador João Azevêdo dos quadros. Qual o sentido de João sair do partido? Por divergências pontuais? João não vai sair da legenda, ele foi eleito pelo PSB, que é a única força que sempre teve e tem projeto claro para a Paraíba, destacou. A direção nacional representada por Carlos Siqueira ainda tenta esgotar uma solução na base do consenso, insistindo em que o diálogo é o melhor caminho para dirimir divergências e o deputado estadual licenciado Hervázio Bezerra, que ocupa uma secretaria de Esporte e Lazer no governo, também preconiza entendimento. Mas, entre lideranças que se dizem realistas, o racha é irreversível nas hostes e dificilmente João Azevêdo permanecerá na legenda.
Nonato Guedes, com Correio da Paraíba