No campo socialista paraibano, a bola está com o ex-governador Ricardo Coutinho. Foi ele que detonou, junto com discípulos fiéis, como o deputado federal Gervásio Maia (segundo informação que me foi transmitida), a operação que rachou o PSB ao meio no Estado, destituiu Edvaldo Rosas da presidência do diretório regional e dissolveu o próprio diretório, que está esperando Godot, ou seja, a comissão provisória, a quem, segundo se diz, caberá recompor a agremiação. O governador João Azevêdo, se não chegou a jogar propriamente a toalha, foi contundente ao repassar à cúpula nacional presidida por Carlos Siqueira a deliberação sobre sua permanência ou não na legenda.
Siqueira, sejamos honestos, já tomou partido no imbróglio, embora tente uma saída honrosa para sua imagem, primeiro descaracterizando a intervenção no PSB paraibano como intervenção; em segundo lugar, propondo que Azevêdo e Ricardo sentem à mesa, depois do fato consumado. Vão discutir o quê, o atual governador e o ex? O sexo dos anjos é que não será. Podem ficar com o partido, desdenhou Edvaldo Rosas, destronado manu militari de uma agremiação que ajudou a construir e a fortalecer, senão por votos, certamente no cumprimento disciplinado de tarefas que lhe foram delegadas. Ricardo não está tomado de amnésia que o leve a olvidar a influência que Rosas teve no processo político recente, inclusive, em célebres episódios tipo arranca-rabo travados com ânimos acirrados nas tais plenárias onde se finge exercitar a democracia, mas que via de regra constituem plenárias homologatórias, e só.
No caso em tela, do atual racha que dilacera a céu aberto as entranhas do Partido Socialista Brasileiro na Paraíba, o ex-governador Ricardo Coutinho se superou. Ele protagonizou alianças polêmicas que acabaram digeridas pelo eleitorado, como as que firmou com Cássio Cunha Lima e José Maranhão e da mesma forma descartou esses líderes como se fossem inservíveis, ou seja, já tivessem cumprido o papel que ele (Ricardo) idealizara. A trajetória de Ricardo na vida pública não deixa de ser fascinante, sobretudo, para os idólatras ele passou de Dom Quixote, quando combatia moinhos de vento no PT, para gênio que derrotou quem escolheu para enfrentar, como se imantado por poderes divinatórios que costumam ser pessoais e intransferíveis nesses casos mediúnicos ou associados a processos de deificação. Na prática, Ricardo, para além do talento político, tem se revelado simultaneamente um iconoclasta, especializado em destruir ou se desfazer dos próprios mitos que constrói.
Alguém, por acaso, lembra-se do Coletivo Ricardo Coutinho?. Foi o ajuntamento que o ex-prefeito começou a formar, personificado em torno de si próprio, na reedição tupiniquim do culto à personalidade que moldou figuras históricas de expressão mundial, como Stálin, Hitler e, mais recentemente, no Brasil, Lula da Silva, deslumbrado por ter sido chamado por Barack Obama de o cara, numa época em que ainda não se tinha conhecimento do mensalão, do petrolão e de outros calvários vivenciados pelos lulopetistas. Pois deu-se que Ricardo Coutinho, enfastiado com a rotina do Coletivo e com a mesma retórica que, em muitos casos, tentava reproduzir sua imagem e semelhança, até no tom de voz, simplesmente decretou a extinção do Coletivo. O mimetismo que ele (Coutinho) provocara em discípulos treinados no seu endeusamento parece ter mergulhado naquela fase de aborrecimento, em meio a reflexões de que se tornara descartável, por inútil.
Ricardo foi assim no Partido dos Trabalhadores, de onde bateu em retirada ao pressentir que estavam a ponto de tirar-lhe o tapete. Previdente, ele tem o hábito de se antecipar a fatos e decisões. Gosta de se sentir na vanguarda, de ser reconhecido como um ator que está anos-luz das conjunturas monótonas. É o líder que vê sempre à frente. E que é sempre seguido. Tem sido esse o seu itinerário, e mourejando nele Coutinho tem sido muito bem-sucedido. Não há registro de derrotas espetaculares. Encarna o biótipo do líder talhado para vencer sempre, perder jamais.
Foi assim, ainda é assim, mesmo sem a caneta do governo. Será assim nas próximas empreitadas? A conferir, na ausência de bola de cristal!
Nonato Guedes