Tem sido elogiada nos meios políticos a postura adotada pelo governador João Azevêdo de separar os interesses da administração que lhe cabe reger na Paraíba dos interesses envolvidos no quiproquó político em torno do controle do diretório estadual do PSB, que foi destituído pela Executiva nacional por instância e pressão de aliados do ex-governador Ricardo Coutinho, cujo nome é ostensivamente alardeado para presidir a agremiação, que ficou vazia com a destituição de Edvaldo Rosas, tragado na correnteza do impasse que rachou o arraial socialista no Estado. João Azevêdo, para alguns analistas, demonstrou senso de concepção correta dos desafios que estão colocados para ele na quadra atual, o principal o de administrar em meio a uma conjuntura de incertezas quanto ao humor do presidente Jair Bolsonaro em relação a Estados do Nordeste, sem falar na indefinição que ronda a reforma tributária, um pleito tantas vezes encampado por entes da União, a pretexto de fazer valer o princípio federativo, sem que passos concretos tenham sido dados com vistas ao equacionamento.
Em outra frente, o governador João Azevêdo desapontou a imprensa e, sobretudo, adversários do projeto socialista, que já vinham sonhando com um processo de engalfinhamento entre ele e o antecessor Ricardo Coutinho, cujo desideratum seria o rompimento da amizade, da aliança e do alinhamento político, jogando na lata de lixo da historia um alentado período de construção e de convivência ou de compartilhamento. Em certa medida, Azevêdo parece ter raciocinado que a polêmica, se interessa ao próprio Ricardo, que se mantém em evidência sem estar com a caneta do poder administrativo, apenas consome suas energias, desvio seu foco do contencioso que lhe cabe enfrentar no comando do Palácio da Redenção e faria a festa de pescadores de águas turvas, até mesmo alojados no agrupamento socialista, ávidos por conquistar uma nesga qualquer de prestígio ou de benefício em meio ao desaguisado que abalou o até então aparente modorrento horizonte político-partidário da Paraíba.
Uma frase atribuída ao governador, em meio a um diálogo com o líder na Assembleia Legislativa, deputado Ricardo Barbosa, expressa o grau de maturidade de Azevêdo uma vez confrontado com os acontecimentos desagradáveis. Quando todos ou muitos esperavam reações furibundas de Azevêdo, que o fariam descambar para a sangria desatada do confronto político, eis que o sucessor da Era Ricardo saiu-se com esta: Não vou colocar o governo no centro do furacão. O ajuste é partidário, não passa pelo Executivo. Essa distinção possibilita ao governador a serenidade para investir-se do discernimento indispensável com vistas a marcar posição no tour de force intentado com ares coronelísticos por Ricardo Coutinho, entronizado em algumas franjas dos girassóis tupiniquins como senhor de baraço e cutelo da moderna versão política oligárquica, uma espécie de rei coroado mesmo sem ter a Coroa a cingir-lhe a cabeça.
João Azevêdo tem surpreendido os incautos com atitudes firmes, ou, se quiserem, autonomistas, como a indicar que não é tutelado por ninguém, nem tem perfil de marionete que se rende a imposições, mesmo dispondo de instrumentos muito potentes pra não fazê-lo. É uma questão de caráter, pelo que se depreende aleatoriamente, já que muitas das observações acerca do imbróglio obedecem a interpretações subjetivas, exatamente pela subjetividade de certas atitudes cujo teor e origem não ficaram transparentes para a própria opinião pública paraibana, de certa forma tomada de sobressalto pela cisão inopinada que, em tese, irreversivelmente, instalou-se melhor seria dizer escancarou-se nos domínios do Partido Socialista Brasileiro na Paraíba.
Uma outra circunstância que intriga e chama a atenção dos analistas políticos na Paraíba diz respeito à tranquilidade com que a cúpula nacional do PSB, presidida por Carlos Siqueira, move-se em face da extensão do desentendimento. Nem parece que há qualquer preocupação com o desmonte do chamado projeto socialista de poder arquitetado a duras penas na Paraíba e que possibilitou, grosso modo, a permanência de quase oito anos de Ricardo Coutinho na prefeitura de João Pessoa e a permanência do mesmo Ricardo no governo do Estado durante oito anos ininterruptos, a que se seguiu a vitória de João Azevêdo nas urnas, até então cantada e decantada como a aprovação popular de um modelo que ainda teria fôlego para se manter reinando no Estado. Vale repetir: há muito o que explicar nesse moído todo. Tem muito blefe rondando versões e declarações. Pode acabar sobrando para o futuro de uma legenda que parecia fadada a impor-se de forma soberana e legítima na quadra política estadual.
Nonato Guedes