Do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sabe-se que age no poder como macaco em loja de louças diariamente, quebra um cristal sagrado do altar das riquezas do Brasil. No contraponto ao presidente aloprado, um bando de oportunistas, de extração variada, luta para tirar proveito da Amazônia, que já foi tida como pulmão do mundo. A discussão que agora foi retomada, com ares de radicalização, foge ao racionalismo, o que dificulta qualquer consenso sobre o destino que deve ser dado à Hileia Amazônica, cortejada exatamente por causa dos seus atrativos, como o nióbio, e por relíquias avaliadas a peso de ouro. Essa cupidez toda não é gratuita, podem ter certeza.
São totalmente injustificáveis as ofensas de Bolsonaro ao líder francês Macron e á sua mulher, mas não de todo surpreendentes, conhecendo-se, como se conhece, a linguagem chula, rastaquera, misógina, que tem pautado o vocabulário bolsonarista. Mas soa extemporânea a exortação de Macron por um movimento pela internacionalização da Amazônia. Fica escancarada, então, a cobiça dos alienígenas pelo que está encravado em território brasileiro. Tudo isto que está acontecendo agora, com todo mundo metendo a colher na questão da Amazônia, deriva do passionalismo que esconde interesses econômicos de alta periculosidade.
É hora de lembrar que, desde algum tempo, a cada dia é roubado (sim, é essa a expressão) um pedaço da Amazônia, por propagandistas a serviço de esquemas associados ao capital e ao imperialismo. A floresta amazônica tem se tornado uma espécie de água benta para gente de todos os tipos, mas não necessariamente por razões nobres, e, sim, por ambições astuciosas. Artistas, intelectuais e ambientalistas que entram no embate para protestar contra a alegada destruição da Amazônia são inocentes úteis servindo a grandes corporações. O saque da Amazônia, para quem não sabe, se dá nas caladas da noite ou no principiar de madrugadas, com arsenais apostos para a retirada de riquezas nativas. O que sai daqui não tem contrapartida em favor do Brasil é automaticamente anexado à soberania dos exploradores desses tempos modernos.
Ocorre, também, uma questão de âmbito cultural enraizada nos corações e mentes de figuras privilegiadas: a proposta recorrente de socialização dos bens da Hileia Amazônica para o mundo inteiro, principalmente, para as potências mais ativas, como a França, Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra. É uma estratégia sacana de tutelar as potencialidades do Brasil, como se a sociedade brasileira fosse incapaz de gerir seu próprio destino. Isto explica a indústria de pitacos que prospera de tempos em tempos sobre o que deve ser feito com o Brasil. A ingerência, por si só odiosa, ignora a soberania do Brasil, desrespeita o princípio da auto-determinação dos povos e já vem com um selo aditivado: trata-se de prerrogativa de outros países, cabendo ao Brasil chupar os dedos ou lamber os beiços enquanto a riqueza vai sendo desviada de forma ostensiva e, se possível, com aplausos dos nativos. O Brasil é quem menos manda num valioso pedaço do seu território.
É estranho que o mesmo fervor com que a Amazônia é defendida no exterior não se estenda à sensibilidade para com o drama calamitoso da estiagem no Nordeste brasileiro. Alguém tem notícia, recente, de remessa de dinheiro do exterior para acudir nordestinos com fome ou em petição de miséria por causa das secas cíclicas? Não há notícia nesse sentido porque já está delineada a sentença de que este é um problema exclusivo do Brasil. Claro, ninguém gosta de coçar os bolsos para ajudar, de verdade, a quem mais precisa. Já para ganhar, de mão beijada, dividendos de exploração de minérios, riquezas nativas, de outros países, é mão na roda. Uma decorrência da mentalidade colonialista que consiste em subjugar os tidos como subdesenvolvidos, para que não ingressem no clube fechado dos países ricos ou das potências que mandam pela força do dinheiro.
A controvérsia que agora se retoma não é de todo inútil, porque contribui positivamente para despertar os que até então estavam passivos diante do problema e, com isto, formar-se quórum qualificado para a defesa primordial da soberania do Brasil. O presidente Jair Bolsonaro está no centro do furacão, de forma negativa, porque adota um estilo atabalhoado de governo, que não é nunca focado no diálogo, mas, sim, na agressão, na intimidação, na ameaça. Mas ele pode ser perfeitamente contido por atores mais serenos e com maior credibilidade para propugnar o que realmente nos interessa: a preservação do patrimônio brasileiro. Quanto a Macrón e companhia limitada…ora, vão catar coquinhos!
Nonato Guedes