O ministro da Justiça, Sérgio Moro, expoente da Operação Lava-Jato e responsável pela decretação da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é aguardado em João Pessoa na sexta-feira, 30, para participar da cerimônia de inauguração do prédio da Superintendência da Polícia Federal às margens da BR-230, próximo ao Pedro Gondim, prevista para as 15h. Em princípio, está anunciada uma manifestação de apoio ao ministro e à Operação Lava-Jato, articulada por um denominado Movimento Renovação Patriótica. Moro tem estado na berlinda, alvo de intensa exposição negativa por causa de diálogos revelando que ele agiu de forma irregular quando foi juiz da Lava-Jato em Curitiba.
A revista Veja nota que no governo do presidente Jair Bolsonaro ele não tem repetido o brilho dos tempos de magistrado, mas ainda é o ministro mais popular, de acordo com os resultados de pesquisa encomendada pela publicação ao Instituto FSB Pesquisa sobre a avaliação da gestão federal. Nos meios políticos, afirma-se que o ministro está sangrando, acuado por denúncias insistentes de setores que fazem oposição ao governo Bolsonaro. Em função do desgaste que enfrenta, o pacote anticrime, sua prioridade na Pasta da Justiça, não avançou no Congresso e, a cada semana, vem sendo desidratado pelos parlamentares.
Moro também engoliu muitos sapos, como ter de desfazer a nomeação da cientista política Ilona Szabó para um conselho após críticas do presidente e aceitar de volta a Funai, que ele deixou claro que não desejava. Bolsonaro interferiu, também, em órgãos de fiscalização e demonstrou interesse em mexer em superintendências da Polícia Federal, passando por cima do ministro. Não obstante tudo isso, no levantamento VEJA/FSB, Moro foi apontado como o melhor ministro da gestão por 29% dos entrevistados. Outros 15% responderam nenhum, enquanto Paulo Guedes, da Economia, foi lembrado por 6% – os demais não passaram de 1%. Moro é mais bem-visto entre homens de 41 a 59 anos com ensino superior completo e renda mensal acima de cinco salários mínimos. Quando são instados a apontar a área que mais melhorou na gestão Bolsonaro, 34% dos pesquisados citam o combate à corrupção e 13% mencionam a segurança.
Alon Feuerwerker, da FSB, avalia que Sérgio Moro virou um símbolo da luta contra o crime e que essa imagem permanece forte no imaginário das pessoas, ainda que ele não tenha realizado muita coisa no ministério. O potencial político do ministro da Justiça, também, é elevado. No cenário em que é apresentado como presidenciável, no lugar do presidente Jair Bolsonaro, lidera com 27%. Mas é uma folga menor que a do presidente diante da mesma concorrência. A maior ambição de Moro, segundo tem sido noticiado, é a de vir a ocupar uma vaga de ministro no Supremo Tribunal Federal. Haveria, mesmo, um compromisso de Bolsonaro com ele desde a campanha eleitoral e esse fator teria influenciado a aceitação da pasta da Justiça por Sérgio Moro.
A impressão que se tem, tanto nos meios jurídicos quanto políticos, é a de que, na esteira das insinuações contra ele e do desgaste paulatino a que tem sido submetido, o ministro vai perdendo as chances de vir a ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal. Na própria Corte, ele enfrenta fortes resistências de ministros, alguns dos quais declararam publicamente que não gostariam de vê-lo sentado nas cadeiras que ora ocupam. O presidente Bolsonaro tem um comportamento errático na relação com o ministro Bolsonaro, ora afagando=o, ora minando seus poderes. Já chegou a levar o ministro para um teste de popularidade em jogos de futebol e, em tese, Moro foi aplaudido e aprovado. Mas com o governo também atolado em problemas e contradições, a situação do ministro cada vez mais se complica, especialmente, quanto ao seu futuro, no Supremo ou no governo Bolsonaro.
Nonato Guedes