A crise desencadeada no PSB paraibano, com o ex-governador Ricardo Coutinho e o atual governador João Azevêdo lutando pelo controle da legenda, mantém-se em banho Maria, não havendo perspectiva de solução a curto prazo. No dizer do atual gestor, caberá à cúpula nacional do Partido Socialista oferecer a melhor solução para o impasse, dentro da lógica segundo a qual quem pariu Mateus que embale. É uma referência à iniciativa surpreendente de Ricardo acionando o diretório nacional para protagonizar intervenção branca na seção local do partido, com a destituição do presidente Edvaldo Rosas, que teria cometido o crime de acumular a direção da sigla com a secretaria de Estado de Governo. Os dirigentes baseados em Brasília demonstraram tendência pró-Ricardo, mas depois tentaram conciliar o governador João Azevêdo.
Chamado para uma reunião na Capital Federal a pretexto de dar seu aval à reunificação partidária, o atual chefe do Executivo desdenhou da oferta e deixou a batata quente no colo da Executiva. Na sequência, Azevêdo anunciou que não participará do ato intitulado SOS Transposição, que Ricardo Coutinho articula e que deverá levar domingo, a Monteiro, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-candidato a presidente da República, Fernando Haddad. Em relação a esse último ponto, Azevêdo justificou que está com a sua agenda previamente fechada esta semana, com audiências em Brasília, o que inviabiliza compromisso de presença no cariri paraibano. Estivessem Azevêdo e Ricardo de boa, o gestor de plantão no Palácio da Redenção renegaria a oportunidade de ir a Monteiro? É indagação que circula nos meios políticos, reforçando a suspeita de que não há caminho de volta para uma reaproximação entre antecessor e sucessor.
Enquanto os grandes não acertam os ponteiros, a insegurança é ostensiva junto a líderes socialistas paraibanos, que necessitam colocar em pauta o cenário da disputa eleitoral no próximo ano, quando estarão em jogo candidaturas a prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, nos diferentes municípios do Estado. Os liderados socialistas carecem de bússola sobre o rumo que devem tomar no pleito, tanto na hipótese de lançamento de candidaturas próprias, quanto na hipótese de celebração de alianças com outros partidos para reforçar postulações que forem lançadas. Eles invocam, ainda, a pressão das bases e dos próprios eleitores, de certa forma desnorteados com o desaguisado reinante nas hostes socialistas.
O que deixa muita gente com a pulga atrás da orelha é o fato de que a divergência no PSB rebentou justo quando o partido manteve a continuidade no comando do poder estadual na Paraíba, através da eleição de Azevêdo, já no primeiro turno, para completar metas executadas ou delineadas nas duas gestões empalmadas por Ricardo Coutinho, a partir de 2011. O desentendimento subverteu norma, segundo a qual a vitória une, enquanto a derrota desune. A expectativa era a de que estivesse cimentada a coesão entre Azevêdo e Ricardo, independente dos estilos que eles exibem. Afinal de contas, vendeu-se na campanha eleitoral de 2018 a promessa da continuidade como condição sine-qua-non para viabilizar o que consta do decantado projeto socialista, proclamado como inovador, até mesmo revolucionário, nos domínios da Paraíba.
A briga entre Ricardo e João Azevêdo nem de longe estava no script ou na crônica dos fatos que se sucederiam ao pós-2018. Mais do que união, havia cumplicidade entre os caciques da agremiação socialista, que trabalharam juntos na edificação do projeto de poder do PSB. Eis que eclodiu a Operação Calvário e deu-se o divisor de águas, com Ricardo queixando-se nos bastidores de não ser ouvido nem cheirado para nada pelo sucessor, embora já tivesse havido a prisão de uma ex-secretária, Livânia Farias, bem como as exonerações de secretários remanescentes da Era que ele pilotou na Paraíba. A partir daí, ficou difícil alguém segurar a mão do outro, tal como fora insinuado como axioma entre os socialistas.
A grande vítima da cisão é mesmo o projeto de poder concebido para durar décadas na Paraíba. E de cambulhada pode ir pelos ares a perspectiva de vitórias retumbantes do PSB nas eleições municipais do próximo ano. A fogueira de vaidades dentro do partido está gerando as condições para que a legenda seja estraçalhada nas urnas, com o aproveitamento da cizânia por partidos e candidatos de oposição. A conferir!
Nonato Guedes