O ex-governador Ricardo Coutinho, que luta para ser escolhido presidente do diretório regional do PSB na Paraíba, depois da destituição de Edvaldo Rosas do cargo, monta estratégia calculada para avançar, também, pelo controle do Partido dos Trabalhadores no Estado, colocando prepostos de seu grupo no comando da agremiação onde iniciou sua trajetória política e da qual se desfiliou em meio a ameaças de expulsão por infidelidade partidária e manobras para rifar sua primeira candidatura a prefeito de João Pessoa, em 2004. O ato público SOS Transposição, que Ricardo está convocando para domingo, na cidade de Monteiro, no cariri, terá como estrelas maiores o ex-presidenciável do PT Fernando Haddad e a presidente nacional petista, Gleisi Hoffmann.
O pretexto invocado por Coutinho para a manifestação é o de cobrar do governo Bolsonaro a retomada de obras do projeto de transposição em cidades paraibanas. Mas o governador João Azevêdo (PSB), que se desentendeu com Ricardo dada a iniciativa dele em recorrer à cúpula nacional socialista para dissolver o diretório paraibano, não comparecerá à manifestação, alegando estar preso a uma agenda prévia de compromissos, incluindo audiências com pelo menos cinco ministros do governo Bolsonaro. Da mesma forma, o presidente da Assembleia, deputado Adriano Galdino, também do PSB, justificou o seu não comparecimento ao evento de Monteiro pela necessidade de obter informações técnicas mais consistentes do governo federal sobre o andamento das obras.
Deputados tidos como fiéis a Ricardo deverão acompanhá-lo na manifestação. Este é o caso de Gervásio Maia, federal, e a nível estadual das deputadas Cida Ramos e Estelizabel Bezerra, que atuam como porta-vozes informais de Coutinho na tribuna da Assembleia e nas entrevistas na mídia. Ricardo deflagrou um processo de reaproximação com o Partido dos Trabalhadores no Estado por ocasião do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, quando a trouxe á Paraíba para audiência pública no Espaço Cultural a fim de proferir a narrativa do golpe, que é como ela classifica o seu impedimento. Os laços de Ricardo com o petismo se estreitaram com a sua solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, tendo feito uma visita ao líder petista em companhia de outras figuras de expressão. Coutinho insiste em proclamar que Lula é vítima de uma injustiça terrível e reitera confiança na inocência do ex-presidente da República.
Se lograr passar a controlar dois partidos na Paraíba, Ricardo cometerá mais uma façanha na sua trajetória, levando-se em conta que está sem mandato, fora do governo e sem a caneta do poder para nomear ou demitir. Houve casos de políticos que recorreram ao estratagema de dispor de dois partidos como garantia, exemplo do ex-governador Tarcísio Burity, que ao pressentir fogo amigo por parte do PMDB, a que estava filiado desde 1986, estimulou a criação do PL como legenda alternativa de apoio ao governo. Por enquanto, mantém-se indefinido o quadro de convivência nas hostes do PSB paraibano. Os ricardistas apostam fichas no cacife do ex-governador, que teria a simpatia do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, para tocar o barco no Estado. Foi Siqueira quem acatou gestões de Coutinho para a dissolução do diretório e a consequente destituição de Edvaldo Rosas. Nas hostes do PSB afirma-se que Azevêdo não tem perfil de socialista, apesar de há pelo menos doze anos estar filiado à agremiação. O PT tem secretários no governo de Azevêdo, caso do ex-deputado federal Luiz Couto, mas a influência de Ricardo nas suas hostes ainda seria preponderante, segundo fontes ligadas ao antecessor de João.
Nonato Guedes