Um comunicado da Polícia Federal na Paraíba dá conta do cancelamento da presença do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, hoje, para a inauguração da nova sede da Superintendência Regional da PF no Estado. O cancelamento foi atribuído a compromissos urgentes que impedem Moro de se ausentar de Brasília na data de hoje. Da mesma forma, o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, que viria com o ministro na mesma aeronave da FAB que o transportaria, também declinou de vir ao Estado. O dirigente máximo do órgão será representado na cerimônia pelo Corregedor Geral da Polícia Federal, Omar Haj Mussi. O comunicado é assinado pela divisão de comunicação social da Polícia Federal.
Manifestações de protesto contra Sérgio Moro estavam sendo articuladas por militantes de grupos políticos de esquerda na Paraíba. Moro tem enfrentado profundo desgaste à frente do ministério, com o vazamento de áudios de conversas comprometedoras mantidas supostamente por ele com procuradores do Ministério Público quando era o juiz da Operação Lava-Jato em Curitiba, de ampla repercussão internacional. O ministro, na condição de juiz, foi quem determinou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, acusado em vários processos de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o que é rechaçado pelos advogados do ex-mandatário. Ontem, em Brasília, o ministro finalmente apresentou o seu pacote anticrime, que é tido como polêmico e gera críticas de instituições da própria sociedade.
O presidente Jair Bolsonaro tem ameaçado a autonomia de Moro ao interferir em nomeações nas unidades da Polícia Federal, com isto enfraquecendo a atuação do seu auxiliar e desgastando-o perante a opinião pública. Há oito meses, quando da instalação do governo, Moro foi anunciado como superministro, que teria carta branca para atuar, mas essa força foi posta em xeque com ass interferências do presidente Bolsonaro. A Polícia Federal, em termos administrativos, é subordinada ao ministro da Justiça, mas o presidente afirmou ter poder de veto sobre atos do ex-juiz federal. O ministro assiste, ao mesmo tempo, ao derretimento das suas chances de virar integrante do Supremo Tribunal Federal, onde é detestado por vários integrantes do colegiado. Na tentativa de minimizar críticas e especulações, Moro descartou projeto político, afirmando peremptoriamente que não é candidato a nada. Na solenidade, ontem, no Palácio do Planalto, Bolsonaro fez um afago ao ministro dizendo que ele é um patrimônio nacional.
Nonato Guedes