As filiações de prefeitos e outras lideranças políticas ao Democratas, programadas para hoje em Cabedelo com a presença do presidente nacional, ACM Neto, prefeito de Salvador, sinalizam uma ofensiva do partido presidido no Estado pelo ex-senador Efraim Morais e que tem como expressão maior o deputado federal Efraim Filho no sentido de fazer a agremiação protagonizar o papel de Fênix, ressurgindo das cinzas e readquirindo o cacife que, de forma inequívoca, esteve associado à trajetória do ex-PFL. Ainda que no figurino de coadjuvante, fornecendo nomes para vice-governança, o ex-PFL viveu momentos gloriosos com a ascensão de Efraim ao Senado e, lá, à primeira-secretaria, sem falar em bancada respeitável na Assembleia Legislativa.
O hoje DEM sempre foi considerado por analistas políticos como um fiel da balança nas eleições majoritárias da Paraíba, nos últimos anos, mesmo quando, a nível nacional, fixava-se uma polarização renhida entre o PT e o PSDB, ciclo quebrado com a eleição do outrora outsider da política Jair Messias Bolsonaro em 2018. O PFL foi cortejado ora pelo então governador José Maranhão, ora pelo governador Cássio Cunha Lima e, finalmente, por Ricardo Coutinho, senão para compor chapa majoritária, certamente para integrar (e reforçar) coligações, tendo atuação decisiva em pleitos memoráveis quando se exigia o concurso de uma terceira força para desequilibrar embates aparentemente radicalizados entre dois grupos.
Convém lembrar que Efraim pai foi alçado, na condição de vice-presidente da Câmara dos Deputados, ao cargo de presidente da instituição e, nesse papel, foi quem deu posse ao petista Luiz Inácio Lula da Silva na primeira oportunidade em que ele logrou se elevar ao Palácio do Planalto. Posteriormente, Efraim delimitou seus espaços e assumiu de forma ostensiva o papel de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dando andamento a uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre bingos, que Lula, num momento de irritação, denominou de CPI do Fim do Mundo. A referida Comissão produziu um circunstanciado dossiê, de certa forma incriminando figuras da gestão petista e propondo a adoção de sanções como remédio pedagógico para estancar as irregularidades, mas o governo petista se fez mais hábil e mais ágil e jogou por terra as conclusões da CPI, que, nem por isso, deixou de ter relevância no contexto institucional brasileiro.
Com o tempo, o partido foi definhando em termos de representatividade, tanto no plano nacional como, principalmente, na Paraíba, onde caiu a expressão na Assembleia e no Congresso Nacional, minguando, por extensão, o contingente de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Esse estágio de definhamento coincidiu com a falta de perspectiva que o ex-PFL poderia oferecer no jogo político estadual, onde outras forças emergiram com maior poder de fogo, constituindo até, em certos períodos, hegemonia no Executivo casos de José Maranhão, Cássio Cunha Lima e, mais recentemente, Ricardo Coutinho (este, depositário de quase oito anos de mandato na prefeitura de João Pessoa e dono de exatos oito anos de mandato no governo do Estado). A bancada federal paraibana está pulverizada entre representantes de legendas variadas, do recentíssimo PSL do presidente Jair Bolsonaro ao PSB que emplacou Gervásio Maia (afinadíssimo com Ricardo Coutinho) na representação. O DEM ainda marca presença ativa com Efraim Filho, diferentemente do hoje MDB, que não tem ninguém para chamar de seu em Brasília, exceto José Maranhão no Senado.
Qualquer estratégia viável de retomada da ocupação de espaços pelo Democratas passa pela expansão dos quadros e pelo investimento a partir da base municipalista, que sempre constituiu a força motriz do extinto PFL. Nessa quadra que se afigura, o desafio maior está posto para o deputado Efraim Filho, a quem o bastão foi passado pelo pai já há algum tempo e que tem se destacado na Câmara Federal pela atuação proativa não somente em comissões temáticas, mas também nos debates, nas intervenções acerca de problemas da Paraíba e de temas da conjuntura nacional e de posições firmes como a que tomou, favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, do PT. Há espaços de mobilidade para o DEM, se for levado à frente um planejamento realista e atualizado com a realidade política que o país vivencia. A incorporação de segmentos jovens também é fundamental para oxigenar as fileiras da agremiação e empurrá-la para embates promissores nas futuras eleições. Mas, acima de tudo, o DEM precisa construir uma identidade mais compatível com o sentimento da opinião pública. A ausência dessa identidade parece ter sido o seu calcanhar de Aquiles em toda a trajetória até agora.
Nonato Guedes