Fechando o mês de agosto deu-se, ontem, o registro de três anos de impeachment de Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita presidente da República na história do Brasil e, também, a primeira presidente da República a ser alvo do impeachment antes dela, o premiado havia sido Fernando Collor de Melo, auto-denominado caçador de marajás na campanha presidencial de 1989 e que foi enredado num esquema de tráfico de influência comandado por PC Farias, ex-tesoureiro da campanha colorida. Dilma, apeada do cargo pelo Congresso, sob acusação de pedaladas fiscais detectadas pelo TCU e outras irregularidades administrativas, estava no seu segundo mandato quando foi defenestrada. Nos três anos do impeachment, ela foi cruelmente injustiçada e olimpicamente ignorada pelo PT, que prefere dar prioridade absoluta à bandeira do Lula Livre do que manter, em paralelo, a narrativa do golpe que foi construída tão logo Rousseff foi despejada do Planalto.
Num surto de amnésia, o ex-candidato a presidente da República, Fernando Haddad, que se encontrava, ontem, no Recife, liderando mais uma caravana Lula Livre, que hoje desembarca em Monteiro, no cariri paraibano, ignorou completamente os três anos do impeachment de Dilma. A verdade é que a ex-presidente nunca mereceu o apreço do Partido dos Trabalhadores, onde correntes majoritárias a estigmatizaram como uma espécie de intrusa, inventada pelo ex-presidente Lula para não lhe fazer sombra. No discurso com que amaldiçoou o impeachment e nas alocuções seguintes, Dilma insistiu no argumento de que fora vítima de misoginia, por parte de adversários tremendamente machistas que nunca absorveram a ascensão de uma mulher à suprema magistratura da Nação.
O que Dilma não tem dito, por razões mais do que compreensíveis, é que a tal misoginia partiu dos expoentes do próprio Partido dos Trabalhadores, que engoliram em seco a sua nomeação como candidata por parte de Lula. Em 2010, depois de tentativas para abocanhar um terceiro mandato consecutivo, logo rechaçadas pela maior parte da classe política, Lula idealizou um nome que nem lhe faria sombra nem teria maiores ambições, como, por exemplo, a de tentar a reeleição. Ao ungir Dilma Rousseff como candidata do PT à sua sucessão, tratou-a de forma demagógica como Mãe do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, tentando associá-la, de forma subliminar, aos descamisados, tal como o ditador populista Juán Perón fez com Evita e com o cadáver dela na Argentina. Lula foi tão machista em relação a Dilma que, mesmo na largada da campanha dela, definiu a candidata como um poste. Petistas ortodoxos que mais tarde foram parar na cadeia Lula incluído torceram o nariz para a indicação da Sra. Rousseff.
A incapacidade de elaborar raciocínios com nexo transformou a já presidente Dilma Rousseff em personagem folclórica, a par de declarações absurdas que deram origem ao Dilmês, livro que é espécie de glossário das aberrações proferidas pela ex-mandatária e compiladas por Celso Arnaldo Araújo. O Dilmês foi apresentado, em tom de sarcasmo, como o idioma da Mulher Sapiens. Conforme ele, nas pequenas pílulas da Dra. Dilma estava a raiz do idioma que passaria a governar o Brasil: palavras de um estrato mais culto, como autoestima e fundamental pegando carona num pensamento indigente, que era a tônica de suas declarações, agravada por uma tendência a cacoetes de vulgarismo, como corruptelas (você = ocê) e o desprezo ao infinitivo dos verbos. Não era apenas uma questão de gramática, mas de gestão. Esse povo que pode e teve (sic) muitas vezes desempregado. Nós não queremos isso. Nós queremos todos os brasileiros empregados.
É da lavra de Celso Arnaldo Araújo: Uma presidente que queria ver todos os brasileiros empregados, incluindo bebês de colo e pacientes de casas de repouso, acionaria automaticamente o sinal de alerta, ao estilo da Apolo 13: Brasília, temos um problema. Ao comentar frases ditas por Dilma em público, Celso afirmou: Não lhe ouvi ainda uma frase inteligente. Um raciocínio límpido, criativo. Uma tirada esperta. Um jogo de palavras que faça sentido lógico e tenha algum requinte metafórico. Uma boa ideia própria. Uma resposta satisfatória e sincera. Um pensamento superior que denote um juízo superior sobre nossas mazelas e nosso futuro. Um cacoete de estadista. Uma réplica ferina. Uma das mais famosas citações de Machado de Assis preso por ter cão, preso por não ter cão, de O alienista, foi alterada por Dilma, assim: Muitas vezes você é criticado por ter o cachorro e, outras vezes, por não ter o mesmo cachorro. Além do impeachment, que o PT esqueceu, Dilma perdeu uma eleição quase segura para o Senado em Minas. Vive no mundo da lua, ministrando palestras no exterior, na linha tortuosa do palavreado com que se notabilizou no sentido de estocar vento e traduzir didaticamente o que é uma bola de futebol. Grande Dilma, pobre Dilma. Foi apenas um ornamento que Lula tirou da cartola para enganar os bobos. Daí foi largada como inservível pelo PT.
Nonato Guedes