A mais recente pesquisa do Datafolha aponta uma crescente rejeição ao governo do presidente Jair Messias Bolsonaro. Antes desse levantamento, uma amostragem encomendada pela revista Veja ao Instituto FSB Pesquisa sinalizou que as declarações polêmicas do presidente são reprovadas até pelos que o apoiam. Na análise de Edoardo Ghirotto para Veja, a porção polêmica da personalidade do capitão, a mesma que o ajudou a chegar ao poder como o único capaz de peitar o PT e o establishment político, funcionou na campanha eleitoral mas não repete o sucesso agora. As pessoas não estão satisfeitas com o estilo Bolsonaro de governar, com sua insistência em impor algumas pautas controversas e, principalmente, com as declarações bizarras em série que se habituou a disparar no Palácio do Planalto.
Para 45% dos entrevistados pelo FSB Pesquisa, as declarações polêmicas do chefe do Executivo atrapalham muito o andamento do país, enquanto 32% consideram que não atrapalham. Nesse levantamento, a avaliação da gestão foi de ótima para 11%, boa para 19%, regular para 33%, péssima para 26% e ruim para 9%. 44% aprovam a maneira como Bolsonaro está governando o Brasil, enquanto 48% desaprovam e 6% nem aprovam nem desaprovam. Por outro lado, 30% dos pesquisados entendem que as declarações polêmicas não atrapalham o andamento do governo, 9% que atrapalham pouco e 49% dizem que atrapalham muito. Ghirotto observa que os oito meses de governo de Bolsonaro parecem muito mais pela intensidade e quantidade de polêmicas e sustenta que o mandatário inspira sentimentos ambíguos na população.
No final de semana, na cidade paraibana de Cabedelo, o deputado federal Julian Lemos, do PSL-PB, que assegura conservar influência no governo de Bolsonaro, comentou que o que é chamado de estilo polêmico do presidente da República traduz, na verdade, a autenticidade de personalidade e de estilo do capitão reformado, salientando que a opinião pública nacional foi apresentada a esse modelo durante a campanha eleitoral pela circunstância de que Bolsonaro ainda se ressentia de maior conhecimento a nível nacional. Julian Lemos, que já se atritou com filhos do presidente, que o chamaram de papagaio de pirata por aparecer, sempre, em fotografias ao lado de Bolsonaro, salientou que sua relação com o Planalto não foi alterada e que, de sua parte, continua a defender o presidente. Disse que às vezes ele parece se exceder na linguagem, mas o faz em defesa da soberania do Brasil, quando sente que ela é ameaçada por outros países interessados nas riquezas nacionais.
O analista político Alon Feuerwerker, coordenador da pesquisa FSB-Veja, observa: Temos apenas oito meses de governo. As pessoas ainda não estão julgando resultados, mas as expectativas. Na análise de Veja, nenhum eleitor de Bolsonaro pode dizer que se surpreendeu com a saraivada de declarações desastradas que o presidente vem distribuindo nas últimas semanas sobre temas variados. Afinal, o ex-deputado do baixo clero ficou famoso, justamente, por, entre outras frases polêmicas, chamar o torturador da ditadura Brilhante Ustra de herói nacional. Havia, porém, a esperança de que, uma vez no cargo, ele reduzisse o tom, o que não vem acontecendo. Foi assim que ultimamente ele afirmou, sem provas, que ONGs e governadores promovem queimadas na Amazônia para prejudicá-lo. Chegou, também, a divulgar um vídeo de caça às baleias para desdenhar da preocupação ambiental da Noruega, que suspendeu o repasse de dinheiro para um fundo de preservação da Floresta Amazônica as filmagens, contudo, ocorreram na Dinamarca. Para a revista, o comportamento irrefreável do mandatário, repleto de ofensas, fake News e temas já superados na cena política brasileira vem chamuscando sua imagem, a despeito dele ainda conservar fatias expressivas de apoio no eleitorado.
Nonato Guedes