O ex-secretário de Recursos Hídricos do governo da Paraíba, professor Francisco Sarmento, que é dos quadros da UFPB e por 14 anos coordenou os estudos e planejamentos hidrográficos da transposição de águas do rio São Francisco, afirmou que os problemas apresentados na execução do projeto são em decorrência dos atropelos políticos. Falando à Folha de S. Paulo, que publicou circunstanciada matéria sobre o abandono das obras da transposição no Nordeste, Sarmento confirmou que a obra foi inaugurada sem que estivesse totalmente concluída, o que, para ele, foi uma temeridade.
Disse que recomendações do Ministério Público Federal em Monteiro para que a transposição não entrasse em funcionamento foram ignoradas. Se o fluxo da água for normalizado sem a reparação dos danos causados ao eixo leste, há um sério risco de rompimento do canal, frisou. O mesmo MPF emitiu laudo técnico em julho passado apontando rachaduras no revestimento de concreto de mais de 1,5 centímetro de espessura. O perito Marcelo Pessoa de Aquino, que assina o documento, alega que os canais da transposição apresentam uma série de patologias que são incompatíveis com o tempo decorrido desde a construção. Afirma que os problemas estão associados a impropriedades na concepção ou execução da obra e questiona, inclusive, a qualidade do material utilizado.
Já o professor Francisco Sarmento lembra que o eixo leste conta com seis estações de bombeamento e que cada estação deveria ter quatro bombas gigantes, fabricadas especificamente para a transposição. No entanto, o projeto original não foi respeitado e só há duas delas em cada local. Esse eixo foi projetado para operar com 24 bombas. Temos a metade. A vazão prevista nunca foi alcançada. Neste momento, nenhuma bomba está em operação, contou Sarmento. Apesar de toda a precariedade e vulnerabilidade, o governador João Azevêdo diz que o funcionamento do projeto conseguiu salvar em 2017 o abastecimento de água em Campina Grande e outros 18 municípios do entorno do Compartimento da Borborema. Mais de 700 mil pessoas teriam sido beneficiadas. Duas barragens chegaram a romper.
A reportagem da Folha de S. Paulo, assinada pelo repórter João Valadares, informa que a bilionária transposição do rio São Francisco definha na região mais pobre do Brasil e que o cenário é desolador. O eixo leste, que corta Pernambuco e Paraíba, não resistiu à gambiarra oficial. O trecho foi inaugurado às pressas pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) em março de 2017 e, logo em seguida, de maneira simbólica, pelos petistas Lula e Dilma Rousseff. A água sumiu há cinco meses e parte da região, que vislumbrou o fim da indústria da seca, continua sendo abastecida por carros pipas. A transposição é a maior obra hídrica do Brasil. Mas os problemas atrapalham o cronograma e o orçamento inicial de toda a obra saltou de R$ 4,5 bilhões para R$ 12 bilhões, revela a Folha.
Nonato Guedes, com “Folha de S. Paulo”